Gostaria de iniciar esse texto dizendo que adorei o fim de Wandavision. Desde o começo da série, eu já esperava que aquele clima de sitcom do começo seria substituído por uma trama básica de lutinha de super-heróis. Mas, apesar disso, acho que o saldo foi positivo. Me diverti demais com o começo da série e achei o final bom, apesar de perder diversas oportunidades interessantes. O texto a seguir contém spoilers de toda a série, obviamente.
Uma das coisas que amei em Wandavision desde o começo foi o seu clima de comédia com pitadas de suspense. Isso era inovador tanto para o MCU mas também para outras obras da atualidade. A inspiração clara tirada de filmes como Quero ser John Malkovich ou Show de Truman trouxe um sentimento muito gostoso ao assistirmos. A partir do episódio quatro, a trama começa a mostrar que quer deixar muito pouco para nossa interpretação, explicando demais e com diversos diálogos expositivos. Isso acaba se repetindo no episódio 9, que, apesar de muito forte emocionalmente, nos entrega de bandeja esses sentimentos e essas explicações.
No último episódio, o foco fica no embate físico e moral entre “heróis” e “vilões”. Eu amo a ideia de que a Wanda está tentando resolver um problema que ela mesma criou, tal como Tony Stark em A Era de Ultron. Isso mostra que os heróis são seres poderosos, mas falhos, que podem cometer erros desastrosos. A própria Wanda já lidou com isso antes. Mas, ao colocar vilões como Agnes e o cara da S.W.O.R.D, essa vilania toma uma forma física e diminui demais a força do roteiro para o embate do “bem contra o mal”. Quando se resume à solução dos problemas a uma simples luta, toda essa questão ética e introspectiva perde a força. Para não dizer que reclamo de tudo, eu adorei a forma como o Visão venceu seu clone, através de uma questão filosófica. Perfeito.
Wanda causou sofrimento e torturou pessoas inocentes durante dias. Claro que ela estava em luto e em sofrimento, e que tudo aquilo não foi intenção dela. Mas, no final, ela meio que se desculpa e vai embora em vez de se entregar para as autoridades. Veja, toda a jornada e o plot da personagem é uma jornada de vilã. Ela não é tratada como tal simplesmente porque é uma heroína. Com essas mesmas motivações, ela poderia ser a vilã em outro filme e nele teria seu fim na cadeia ou no cemitério. Entretanto, como é uma personagem “do bem”, ela manda um “foi mal aí, vou estudar mais pra isso não acontecer de novo…”. Esse final tira todo o peso das ações dela e, provavelmente, será esquecido nas próximas obras. Todo o mal que ela causa foi por causa da sua dor, e a série meio que passa a mensagem de que foi tudo justificado.
No final, Wandavision tem um saldo superpositivo, mas acaba sendo nada mais do que mais uma obra do MCU. A série começa de forma inovadora e ousada, mas infelizmente termina fazendo somente o básico. Não ruim, mas com potencial perdido. As questões éticas e morais das ações de Wanda poderiam ser melhor discutidas, bem como a crise existencial do Visão. Mas a série prefere perder tempo desenvolvendo os poderes que surgem do nada em uma personagem secundária, com o objetivo de somente fazer ligação com filmes ou séries futuras. Apesar disso, acho que a Monica Rambeau é uma personagem legal que compartilha também de um luto, por isso entende a dor de Wanda. Isso sim, apesar de clichê, é um elemento legal de roteiro.