Viúva de Ferro era um livro que eu estava ansiosa para ler há muito tempo, pois prometia absolutamente tudo: mechas (robôs gigantes), porradaria, política, feminismo, não é estadunidense, vingança… Prometeu tudo e entregou tudo, até demais. Em uma narrativa poderosa, a história – inspirada na primeira e única imperatriz da China – apresenta Wu Zetian em um universo muito bem construído, extremamente machista e patriarcal, em que mulheres são vistas apenas como produtos, principalmente de amparo masculino. Essa parte não é distópica, que fique claro, pois é apenas uma reprodução bem fiel de nossa realidade.
Aqui, a maior honra que uma mulher pode receber na vida é ser escolhida para ser uma piloto-concubina, servas que são conectadas a pilotos (homens) para fornecer a energia necessária que eles precisam para derrotar e destruir máquinas de guerra gigantes e alienígenas que tentam avançar em Huaxia. Essa conexão mental costuma destruir a mente das mulheres que os servem, que acabam morrendo em massa no campo de batalha. Wu Zetian só tem uma coisa em mente: vingar-se do piloto que assassinou a sua irmã a sangue frio, sem ter sido em combate. O que ela não esperava era que as coisas tomassem um rumo completamente diferente do que tinha imaginado e acabasse não somente ganhando o temido título de Viúva de Ferro, como uma nova “oportunidade” (na verdade, Zetian é obrigada) para mostrar o seu valor para a sociedade, que automaticamente passa tanto a temê-la quanto a admirá-la.
A narrativa inteira de Viúva de Ferro é sob o ponto de vista de Zetian, que possui pensamentos e ideias que podem ser considerados agressivos e extremistas, mas que, na minha opinião humilde, são apenas o que qualquer mulher deveria sentir estando no lugar dela, que questiona o sistema, a si mesma, os outros, a tudo. A melhor parte é que não tem ninguém bonzinho nessa história, principalmente a protagonista, que, longe de ser o epítome da boa vontade e da determinação em salvar o mundo, é construída de forma sólida e clara, em que visa a salvação somente de mulheres, sem medo de manipular e usar quem quer que seja. Assim como a construção também de todos os outros personagens, em sacadas geniais e bem escritas sobre tais pessoas.
A construção do mundo de Viúva de Ferro é muito boa, e a escrita de Xiran Jay Zhao consegue passar exatamente o que quer em cada coisa, cada diálogo, cenário, nas ações dos personagens. É um livro forte, que você engole de uma tacada só, pois cada instante de tensão bem elaborada te faz querer prosseguir na narrativa até que haja algum tipo de respiro, um alívio para toda a situação, que vai apenas escalonando em níveis inimagináveis.
Também é muito refrescante o fato de Viúva de Ferro ser toda baseado na história chinesa, com fortes elementos das inúmeras culturas da China. Xiran Jay Zhao sabe o que quer e vai atrás sem medo.
Viúva de Ferro é o primeiro livro de uma duologia, cuja continuação só saiu lá fora (ainda deve chegar ao Brasil) e foi lançado pela editora Intrínseca. Você encontra facinho para comprar em livrarias e na internet.
Ah, e vale a pena checar o canal do Youtube de Xiran, com análises de diversos filmes, como Mulan, Kung Fu Panda, além de histórias sobre a cultura chinesa. Xiran é uma pessoa espirituosa e muito divertida em seus vídeos, então corre lá para dar uma conferida!