A Netflix amplia seu catálogo de produções biográficas com Victoria Beckham, série documental em três partes que oferece um retrato minucioso da trajetória da ex-Spice Girl que se tornou uma das figuras mais influentes da moda britânica. Dirigida por Nadia Hallgren — responsável pelo documentário Becoming, sobre Michelle Obama —, a produção acompanha a estilista enquanto se prepara para o desfile mais importante de sua carreira, na Semana de Moda de Paris, revisitando ao mesmo tempo os altos e baixos de sua vida pública. Leia a crítica da série em três episódios:
Victoria Beckham, na Netflix
Um retrato controlado e calculado
Assim como em Beckham (2023), série dedicada a David Beckham e produzida pela mesma equipe, Victoria Beckham adota uma narrativa cuidadosamente construída. A própria protagonista é produtora da obra, o que torna evidente o controle que ela exerce sobre a imagem que deseja projetar. Ao longo dos três episódios, o público acompanha uma revisão de sua trajetória desde os tempos de Posh Spice até o momento em que se firma como empresária respeitada no setor de luxo.
A abertura mistura imagens de arquivo dos anos 1990 com cenas atuais, revelando a transformação de Victoria e o desgaste provocado pela exposição midiática. O documentário destaca a maneira como ela foi julgada pela imprensa e pelo público, muitas vezes de forma sexista, por sua aparência, expressão séria e casamento com uma das maiores celebridades do futebol mundial.
A ascensão na moda e o controle da narrativa
Com depoimentos de nomes como Anna Wintour, Donatella Versace e Tom Ford, a série busca legitimar o espaço que Victoria conquistou na moda desde a criação de sua marca em 2008. Hallgren mostra os bastidores de seu processo criativo e os desafios de manter uma grife em meio às críticas e dificuldades financeiras. A ausência das outras Spice Girls chama atenção e reforça a escolha da protagonista em se distanciar daquela fase para consolidar uma nova identidade profissional.
Em alguns momentos, a produção parece menos interessada em revelar fragilidades e mais empenhada em reforçar o profissionalismo da personagem. Questões pessoais, como as antigas acusações de infidelidade no casamento ou o distanciamento de um dos filhos, são ignoradas. O resultado é um retrato polido, mas coerente com a imagem que Victoria construiu ao longo das últimas décadas.
Humor, autoconsciência e um olhar para o passado
Ainda que o tom seja controlado, há espaço para o humor e a ironia. Victoria mostra consciência do próprio passado e dos excessos cometidos, inclusive financeiros, em busca do sucesso. Sua relação com David Beckham também confere leveza à narrativa, especialmente nas interações que revelam a dinâmica divertida entre o casal.
Crítica: vale à pena assistir Victoria Beckham, documentário da Netflix?
Victoria Beckham é um documentário sobre poder de imagem, reinvenção e persistência. Sem grandes revelações, mas com um olhar firme sobre o percurso de uma mulher que transformou o status de celebridade em império de moda, a série reafirma o domínio de Victoria sobre sua própria história — e o controle absoluto sobre a forma como quer ser lembrada.
Disponível na Netflix (assista), a produção funciona como um complemento direto de Beckham, oferecendo o outro lado da parceria que se tornou símbolo da cultura pop britânica dos últimos 30 anos.