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Velozes e Furiosos 10: como falar sobre?

Antes de começar a crítica, eu gostaria de dar um pouco de pessoalidade no texto para abrir um pequeno parênteses. A coisa que mais escutei no fim da cabine de imprensa de Velozes e Furiosos 10 foi: “como que escreve sobre um filme desse?”, “rapaz…pra onde que vou com essa crítica?” e mais algumas variações destas frases. É exatamente esse sentimento que estou tendo agora ao digitar este texto para vocês, leitores do CosmoNerd. Eu não sei o que estou fazendo aqui com esta crítica, mas eu juro que, diferente de Velozes e Furiosos 10, eu vou tentar entregar algo coerente. É tudo por vocês, galera! A família Cosmo!

Agora dirigido por Louis Letterrier (Cão de Briga, O Incrível Hulk, Truque de Mestre, Carga Explosiva), Velozes e Furiosos 10 é o começo do fim, ou o prólogo, ou a trilogia do fim dessa franquia. Uma nova ameaça do passado volta das cinzas para buscar vingança contra Dominic Toretto (Vin Diesel) e sua família. A ameaça é ninguém menos que Dante Reyes (Jason Momoa), filho de Hernan Reyes, vivido por Joaquim de Almeida em Velozes e Furiosos 5: Operação Rio.

Sem delongas, o filme já mostra que o vilão é o “próprio demônio”. Umas das coisas mais importantes em qualquer obra cinematográfica é o “mostre, não conte”, mas até isso aqui é feito de maneira questionável, para não dizer ruim. As coisas simplesmente vão acontecendo na tela e o espectador simplesmente tem que aceitar e entender, mesmo que aquilo que esteja acontecendo anule o que foi estabelecido antes, e isso acontece por vezes. O Dante do Momoa é supermalvado, mas aí também depende, porque existe outro muito pior. E somos agraciados com um antagonista que é o melhor dos dois mundos, uma mistura de Lex Luthor de Batman vs Superman: A Origem da Justiça com um pouco de Ney Matogrosso e uma pitadinha de Baryshnikov (vocês sabem do que estou falando), e por incrível que pareça, isso é um dos pontos positivos do filme, por simplesmente compreender em que universo e filme ele se encontra.

O roteiro ficou a cargo de Zach Dean e Dan Mazeau, e apesar de duas mentes trabalhando juntas, o resultado é um emaranhado de muita coisa que, no produto final, é uma ruma de nada somado com o inexistente. A história realmente não tem base e nem necessariamente tem o que contar, mas o que parecia com os 10 primeiros minutos de projeção é que iria ser um tipo de homenagem ao legado da franquia, cheio de diálogos quase que autocelebrativos entre os personagens, como uma carta de amor a eles mesmos sobre todo esse tempo dedicado a esse universo, e é até interessante enxergar por esse prisma, mas a coisa é tão sem conteúdo que fica insípido todos os momentos em que há uma tentativa de criar algo emocional.

Não existe mais química alguma entre os personagens, não há organização, é um compilado de frases de efeito e piadinhas a todo momento, o que inibe qualquer estímulo ou empatia pelo que está acontecendo em tela. Não há peso algum (na verdade, há muito tempo não tem) em nada do que acontece nesse filme, e é impossível se importar com os personagens, porque simplesmente não dá. Essas pessoas são deuses na Terra, passam incólumes de qualquer coisa: não se machucam, não se cortam, não morrem, e se morrem, voltam à vida. Não dá pra conseguir ter o mínimo de apreço por esse tipo de história. Deus ex machina para dar e vender em todo momento. TO-DO momento.

As cenas de ação não poderiam ser mais desorganizadas e recheadas de cortes frenéticos a todo instante, e sem contar os momentos em que o filme vai além dos limites do aceitável. Todo universo fantástico é moldado por regras e a história é construída através desses alicerces, mas o alicerce da franquia é o “f***-se, Newton”. São sequências de ação que até poderiam funcionar em um contexto em que não estivéssemos falando de deuses na Terra. E ainda existe um fator bola de neve gigante de besteirol em cima de besteirol. Há uma sequência no Rio de Janeiro que, do nada, existem duas gangues rivais, e olha… é uma das cenas mais risíveis que eu já vi nessa franquia.

Em alguns momentos de Velozes e Furiosos 10 parece existir uma autoconsciência da galhofa em que a franquia virou, mas são apenas lapsos, e quando isso acontece, surge uma fagulha de esperança de que irão abraçar isso – mas não de uma forma superséria, que é o que acontece aqui. Todo mundo leva isso a sério demais. E parece que até tá acontecendo um superdrama, mas não está. E eu não vou nem falar da cena da represa.

Velozes e Furiosos 10 é um ensaio sobre alguma coisa, que tentou chegar em algum lugar, mas o pacote de dados acabou e a rota do gps não carregou direito. É basicamente isso. Infelizmente, não funciona nem como um entretenimento barato pra desligar a mente e só ver as explosões. Eu realmente tentei extrair o que tinha nessas 2 horas e 20 minutos de projeção. Espero que vocês tenham uma experiência melhor que a minha quando forem assistir.