Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário, dirigido por Ariane Louis-Seize, chega à Netflix apresentando uma abordagem distinta ao mito dos vampiros. O longa se apoia na comédia sombria para refletir sobre ética, depressão, amadurecimento e solidão, acompanhando uma protagonista que contesta a própria natureza. O resultado é um filme que dialoga com tendências contemporâneas do gênero e reforça a ascensão do cinema canadense dentro do circuito internacional.
Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário
Uma vampira com empatia
A narrativa acompanha Sasha, interpretada por Sara Montpetit. Embora pertença a uma tradicional família vampírica, ela nunca conseguiu desenvolver instinto predatório. Um trauma vivido na infância, mostrado logo na abertura do filme, faz com que o desejo por sangue seja substituído por empatia — condição que, inclusive, impede o surgimento de suas presas. Já adolescente, Sasha vive isolada em casa, consumindo bolsas de sangue “emprestadas” das vítimas de seus pais, o que gera atritos familiares e reforça o sentimento de inadequação.
Pressionada pelos pais, ela vai morar com a prima Denise, que tenta ensinar a jovem a caçar humanos. É nesse momento que o filme amplia o contraste entre tradição e rebeldia, revelando uma protagonista que não rejeita o mundo vampírico, mas busca um modo de existir nele sem romper seus próprios limites éticos.
Paralelamente, surge Paul, vivido por Félix-Antoine Bénard. O adolescente vive uma rotina marcada por bullying e desesperança. Suas tentativas de encontrar sentido esbarram em um ambiente hostil, tanto na escola quanto no trabalho. Após um encontro acidental com Sasha, os dois passam a se cruzar em um grupo de apoio a pessoas com tendências suicidas. A proposta de Paul — oferecer seu sangue para que ela possa se alimentar sem culpa — estabelece o eixo central do filme: um pacto improvável entre dois jovens que compartilham solidão e desejo de pertencimento.
A diretora Ariane Louis-Seize explora com precisão esse encontro de vulnerabilidades. A fotografia e o desenho sonoro reforçam o estado emocional de Sasha, traduzindo ansiedade, desejos e medos de forma estilizada, porém integrada à narrativa. A figura de Paul também ganha densidade, não como contraponto cômico, mas como alguém igualmente perdido em suas contradições. O roteiro, assinado por Louis-Seize e Christine Doyon, aposta em um equilíbrio entre humor e sensibilidade que sustenta a conexão entre os protagonistas.
Montpetit entrega uma performance marcante, carregada de sutileza e presença. A atriz traduz a angústia da adolescência com gestos econômicos e um timing que se adapta bem ao humor sombrio do filme. Bénard, por sua vez, encontra um tom que une fragilidade e leveza, compondo com Montpetit uma dupla que conduz o espectador pela experiência emocional da história.
Crítica: vale à pena assistir Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário na Netflix?
O segundo ato se afasta momentaneamente do conflito inicial ao seguir Paul em uma série de “últimos desejos”, mas o desvio não compromete o eixo dramático. No fim, Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário se revela uma comédia de terror que atualiza o arquétipo do vampiro para temas urgentes, abordando empatia, saúde mental e identidade com originalidade. A estreia reafirma Louis-Seize como uma voz promissora do gênero e apresenta um filme que destaca, com sutileza e ironia, a busca por uma existência possível em meio ao que parece inevitável.