Não adianta negar, sei que você já bancou o valentão pra cima de um amigo (a). Já falou mal do cabelo, da roupa, da aparência e forma física. Inventou histórias, xingou mãe e pai e até postou no Facebook o vídeo daquela festa onde tudo deu errado, apenas para ver o mar pegar fogo e comer peixe assado.
É aquele lance de bullying que não entendemos quando somos crianças e que passamos a detestar depois de crescidos. Claro que as coisas evoluíram e agora – na verdade já faz um tempo -temos o cyberbullying. E nós sabemos o quanto tal prática é devastadora.
É usando isso como pano de fundo que surgiu o terror cibernético Unfriended (ou se quiser pode usar o nome escroto que adotaram por aqui: Cybernatural). Sendo taxado como uma renovação no fôlego do saturado gênero dos sustos, o longa cumpre no quesito inovação. Mas acaba chamado atenção por outra coisa.
Quando um vídeo constrangedor de Laura Barns (Heather Sossaman) cai na internet, a menina tira a própria vida no pátio da escola. Um ano depois, um grupo de seis amigos (Courtney Halverson, Shelley Hennig, Renee Olstead, William Peltz, Moses Jacob Storm e Jacob Wysocki) conversam via Skype e percebem que há uma sétima pessoa desconhecida na videoconferência. Claro que é o espírito da Laura, que voltou para tocar o terror e se vingar de quem destruiu sua vida.
Clichê né? Eu sei. Mas pô, até que não cansa tanto assim. Alguns podem dizer que é por causa dos curtos 82 minutos de duração, mas prefiro ir pelo lado visual da coisa. Todo trabalhado no baixo orçamento, o filme tem a tela de uma chamada de vídeo no Skype como principal “cenário”. A nível de curiosidade, o filme foi gravado em uma única casa, com todos os atores (que não tem tanto talento assim) em cômodos diferentes. Vamos passeando pela trama por meio de vídeos no Youtube, conversas no Facebook e no próprio Skype. Tudo moldado para atrair a nova geração.
Claro que filmes não vivem apenas do visual, principalmente os de terror. Um clima aterrorizante precisa de uma boa história. E Unfriended não oferece isso. Quando Laura finalmente começa a colocar seu plano em prática, o banho de sangue vira um belo passeio no parque. Longe de impactar ou assustar, o longa lembra (com exceção da proposta inovadora) um Atividade Paranormal e qualquer outro filme que leva o selo da produtora Blumhouse, que parece estar por trás da maioria dos filmes de terror atuais que possuem um belo marketing e uma trama batida.
Mas se é um terror que não assusta, por que eu deveria assistir? Porque quando se abstrai um pouco, percebe-se uma mensagem atualizada sobre o bullying e sua versão digital. Os jovens protagonistas são as personificações de todos os esteriótipos presentes na nova geração. E sabemos que esteriótipos sempre funcionam na hora de passar uma lição de moral.
Tem o casal apaixonado que vai esperar o baile para ter sua primeira noite de amor, o gordinho que manja das tecnologias, o riquinho drogado, a gostosona burra e etc. Todos cada vez mais envolvidos com smartphones, Instagram, Tinder, Twitter e todo o leque de mídias sociais. Mas que ainda assim não perceberam o peso enorme por trás de uma brincadeira online ou uma hashtag da vida. Não se engane, Laura é o esteriótipo de todos que sofrem bullying, preconceito e tudo mais. E que acabam escolhendo colocar um fim na própria vida por não enxergar uma saída nisso tudo. Já pensou se todos eles voltassem do mundo dos mortos? Eu pagaria para ver o caos.
Unfriended pode facilmente ser exibido numa daquelas aulas ou palestras sobre o bullying. Se esse filme já existisse quando eu estava no ensino médio, poderia muito bem tê-lo exibido no meu seminário. Era apenas sentar e presenciar a mensagem fazer efeito. Muito melhor do que uns cartazes de gosto duvidoso…
Longe de ser uma obra prima do terror, Unfriended faz parte dos seletos casos curiosos de filmes que pecam na proposta original e acabam sem querer (ou não) acertando em algo que não era o previsto. Se está procurando terror de qualidade, sugiro outros longas. Mas se você é do tipo que que ataca todo mundo por “brincadeira”, seu lugar é aqui 😉