Boba Fett é um exemplo curioso da força de Star Wars no imaginário da cultura pop. Apesar do visual marcante, o caçador de recompensas mandaloriano nunca fez algo realmente relevante durante os filmes da franquia. Tendo sua primeira aparição no famigerado especial de Natal de 1978, Boba Fett logo ganhou o coração dos fãs. Justiça seja feita, suas grandes aventuras estão registradas no Universo Expandido da saga. Porém, com o comando da Disney, não fazem mais parte do cânone de Star Wars. Graças ao sucesso de sua participação na segunda temporada de The Mandalorian, o personagem de Temuera Morrison ganha uma nova chance de mostrar seu valor.
Em seu primeiro episódio, O Livro de Boba Fett demonstra empenho em trabalhar de forma honrosa a imagem de seu protagonista. Além de preencher algumas lacunas temporais entre os eventos da franquia. Para os fãs de longa data, finalmente temos uma resposta para o mistério sobre sua fuga do estômago do sarlacc e todo o caminho tortuoso que percorreu após escapar, encontrando desafios ainda maiores no escaldante deserto de Tatooine. Isso evoca no espectador a sensação de uma retratação, uma tentativa de provar que o personagem é digno de sua fama.
Esses momentos do passado dividem espaço com as ações do presente, onde ele e sua companheira/assassina profissional Fennec Shand (Ming-Na Wen) tentam dominar o submundo do crime no famoso planeta desértico. Essa premissa foi mostrada durante os créditos finais do segundo ano de The Mandalorian e será o plot central aqui. Particularmente, senti uma falta de equilíbrio entre as linhas temporais nesse primeiro episódio. Apesar de gostar da interação entre Temuera e Wen, o passado parece ter mais substância do que essa busca por poder da dupla. Obviamente, essa sensação pode mudar ao decorrer da temporada.
A direção de Robert Rodriguez e o roteiro de Jon Favreau, dupla responsável por The Mandalorian, se apresentam de maneira mais contida nesse primeiro episódio de O Livro de Boba Fett. Os poucos diálogos não são tão inspirados, buscando apoio na sintonia da dupla Fett/Shand. A história não engata no início, o que é um pouco preocupante quando pensamos no mundo das séries. As cenas de ação são básicas, longe da qualidade apresentada no primeiro grande sucesso do Disney+. O que é curioso, se levarmos em conta que Rodriguez tem experiência nesse estilo de produção.
Falando assim, O Livro de Boba Fett parece descartável. E até pode ser para quem não gosta de Star Wars. Mas, julgando pelo início, até entrega um bom equilíbrio entre nostalgia e novidade. Porém, é importante destacar a grande missão da produção: fazer com que a questão narrativa finalmente supere o apelo visual do protagonista.