Figurando entre as produções mais assistidas da Netflix, Uma Advogada Extraordinária é uma série da Coreia do Sul e, como tantas outras atrações de mesma nacionalidade, é merecedora dessa atenção toda por um conjunto de fatores.
A trama acompanha Woo Young-woo (Park Eun-bin), uma jovem formada em Direito que possui grande afinidade com a lei, mas que também precisa lidar com uma série de questões atípicas por possuir síndrome do espectro autista. Dessa forma, tendo sido criada pelo pai e abandonada desde cedo pela mãe, Woo Young-woo acaba contratada em condições misteriosas para trabalhar num renomado escritório de advocacia após ter sido ignorada por todos mesmo sendo a melhor aluna da universidade pela qual passou.
A junção de elementos nessa série consegue uma combinação certeira para engajar diversos públicos numa mesma produção, e talvez more aí o sucesso de Uma Advogada Extraordinária. Primeiro, temos o grande motor de uma série procedural, ou seja, cada caso tende a se resolver no mesmo episódio ou, no máximo, em dois, e isso por si só já oferece um ritmo que não agride muito a paciência do espectador mais apressado. Em seguida, levamos em conta que esses casos serão usados para dialogar com o público a respeito de justiça social, luta de classe, moral, ética no trabalho e muitos outros dilemas inerentes ao ser humano.
Como fomento a longo prazo nesta primeira temporada, colocamos todo o mistério acerca da contratação de Woo Young-woo para trabalhar no escritório de advocacia Hanbada, que se junta a mais mistérios, como o paradeiro da mãe da protagonista e o porquê dela tê-la abandonado. Por fim, e menos interessante, temos o romance de Woo com Lee Jun-ho (Kang Tae-oh), que é claramente colocado para forçar o apelo ao público mais emocionado.
O modo como Woo Young-woo reage a isso tudo é a grande cereja do bolo. Acompanhar o dia a dia dessa advogada é de fato interessante, e ligamos facilmente o botão mental da suspensão de descrença quando o roteiro coloca algumas situações de modo um tanto inverossímeis. Faz parte do show. Até porque são nesses casos que Woo nos apresenta todo o seu conhecimento e sua paixão pelas leis enquanto aprende (às vezes a duras penas) e adquire experiência. Há casos, inclusive, em que os problemas apresentados conversam com os da própria protagonista, como no terceiro episódio, quando um garoto com síndrome do espectro autista (mas num grau diferente) é acusado de homicídio.
Uma Advogada Extraordinária e carismática
Ajuda muito o carisma de Park Eun-bin na representação de seu papel. Independente da fidelidade aplicada quando falamos do espectro autista, a personagem está dotada de carisma e consegue emocionar e fazer rir na medida em que é solicitada, com seu desempenho melhorando a cada episódio.
O elenco cumpre seu papel com competência, uma vez que seus personagens são escalados para cumprir determinados papéis que trabalham como instrumento para o desenvolvimento de Woo Young-woo (pelo menos a maioria deles), e, nesse caso, nem deveria ser diferente. Mas conforme nos afeiçoamos a essas figuras, como o superior de Woo, Jung Myeong-seok (Kang Ki-young), a produção passa também a nos oferecer de prato cheio o drama pessoal de cada um dos coadjuvantes.
Com 16 episódios com cerca de uma hora de duração cada (tempo um tanto longo, mas que acaba sendo suavizado pelo ótimo ritmo da narrativa), Uma Advogada Extraordinária vale muito a sua conferida, e certamente se destaca entre as produções sul-coreanas de qualidade que você pode encontrar na Netflix, além de trabalhar com o tema do autismo sem apelações baratas – como sua série “colega”, Atypical, que também faz muito bem.