O novo filme espanhol Um Fantasma na Batalha (Un fantasma en la batalla, 2025), dirigido por Agustín Díaz Yanes, chega à Netflix como um suspense político e de espionagem que mergulha nas cicatrizes recentes da história da Espanha. Inspirado em fatos reais, o longa se passa durante os anos de atuação do grupo separatista basco ETA, e acompanha uma operação secreta que busca desmontar a organização por dentro — através dos olhos de uma mulher que vive entre dois mundos. Leia a nossa crítica:
A trama de Um Fantasma na Batalha
A protagonista Amaia, interpretada por Susana Abaitua, é uma agente da Guarda Civil que aceita a perigosa missão de se infiltrar na ETA, mesmo sabendo que sua vida estará em risco constante. Sua tarefa é localizar os esconderijos de armas e explosivos que o grupo mantém no sul da França, uma operação que se estende por mais de uma década, entre 1992 e 2004.
À medida que Amaia se integra à organização, ela precisa manter o disfarce e a frieza para não ser descoberta. Seus contatos mais próximos dentro do grupo são Begoña (Iraia Elias), uma militante veterana que também sacrificou a vida pessoal em nome da causa, e Arrieta (Raúl Arévalo), um homem que desconfia de todos ao redor. Essa convivência cria um jogo constante de tensão e vigilância.
Yanes aposta em uma narrativa lenta, mas intencionalmente metódica, que enfatiza o risco e o desgaste psicológico de viver sob disfarce. Pequenas ações ganham peso dramático — como a troca de informações por meio de músicas italianas dos anos 1970, que servem como código entre Amaia e seus superiores. Esse contraste entre o charme das melodias e o perigo iminente reforça o clima de espionagem.
Suspense histórico e atmosfera realista
Desde o início, o filme contextualiza o espectador com recortes de jornais e imagens reais de atentados cometidos pela ETA, oferecendo um retrato claro do período. Essa abordagem não transforma Um Fantasma na Batalha em um documentário, mas lhe confere um forte senso de autenticidade.
As cenas de ação são raras e secas, surgindo de forma abrupta — um tiro em plena rua ou uma emboscada noturna — e interrompendo o ritmo contemplativo do longa. Esse contraste entre o silêncio e a violência inesperada mantém a tensão constante.
O design de produção reforça o tom sombrio: a chuva quase permanente, os interiores escuros e a fotografia fria criam uma sensação de confinamento e incerteza. Quando Amaia se muda para Sevilha, após anos infiltrada, o cenário claro e limpo de seu novo apartamento parece representar uma tentativa de apagar o passado — mas as lembranças continuam a persegui-la.
O peso da personagem e a força da interpretação
Susana Abaitua entrega uma atuação contida, que equilibra a fragilidade emocional e o cálculo racional de uma mulher vivendo sob pressão extrema. Sua Amaia é, ao mesmo tempo, agente e vítima, obrigada a mentir, trair e sobreviver em meio a pessoas que acredita compreender.
Aos poucos, o público percebe o impacto que essa vida dupla tem sobre ela. O isolamento, a culpa e a perda de identidade tornam-se centrais na narrativa. O roteiro sugere que a fronteira entre o bem e o mal se torna cada vez mais difusa quando todos acreditam estar lutando por uma causa justa.
Crítica: vale à pena assistir Um Fantasma na Batalha na Netflix?
Um Fantasma na Batalha é um suspense que prefere a observação à ação, retratando o trabalho de espionagem com realismo e densidade. A direção de Agustín Díaz Yanes aposta em uma história de sacrifício e ambiguidade moral, ancorada em uma atuação sólida de Susana Abaitua.
Mais do que um thriller político, o filme reflete sobre o custo humano da guerra e sobre como a lealdade pode se transformar em um fardo. Na escuridão em que Amaia caminha, não há heróis nem vilões absolutos — apenas pessoas tentando sobreviver a um conflito que as consome por dentro.