Um bom tapa de humor que faz pensar em Cara x Cara
Quem não se lembra de Dr. Albieri no clássico épico novelístico nacional de O Clone? Em Cara x Cara, vemos a clonagem sendo utilizada mais uma vez como o grande desenvolvedor da narrativa. A série criada por Timothy Greenberg, lançada recentemente na Netflix, é um verdadeiro acerto com ingredientes básicos e equilibrados. Um enxuto e, extremamente, talentoso elenco, uma boa premissa, uma direção de atores acertada e um texto leve que nos faz confundir se assistimos a uma comédia rasgada ou um postulado filosófico sobre a nossa própria existência. Humor que faz pensar.
Na série em 8 episódios, Paul Rudd é Miles, um publicitário quarentão, com uma carreira em decadência que não realizou seus sonhos. Não escreveu um livro, não plantou uma árvore e não teve filhos com sua esposa Kate, interpretada por Aisling Bea e seu sotaque lindo de inglês britânico. Miles está a ponto de desistir de tudo até receber uma dica de um SPA que te transforma na sua melhor versão. O que não se esperava é que a melhor versão e a sua pior ficassem vivas juntas, ao mesmo tempo. Daí em diante os episódios narram a confusão entre as duas faces de uma mesma vida.
Paul Rudd, que é um ator que sempre gostei desde os tempos de Friends, mantém seu ótimo tempo de comédia e incrível entrosamento com Aisling. Além disso, não há recurso de computação gráfica para mudar o Miles clonado. É apenas boa atuação do próprio Paul Rudd, um penteado novo, roupas e um trabalho de corpo incrível. É como se fosse outro Paul Rudd. Aliás, ele conta um pouco sobre esse processo nesse vídeo aqui, assista depois de ler tudo aqui.
Sob o ponto de vista do desenrolar da história, garanto que Cara x Cara (uma péssima tradução para o português do nome original ‘Living with Yourself’ que seria ‘Vivendo com Você Mesmo’) é uma série deliciosa de se assistir. Timothy e seu time de roteiristas permitiu que clichês comuns de filmes que abordam clonagem não fossem utilizados, ao mesmo tempo em que propôs gostosas surpresas nas alternâncias de preferências que o espectador tem entre os dois “Miles”.
A Netflix, assim como em Glow outra série que gosto demais, volta a apostar em séries com poucos episódios, com duração mais curta entre 26 e 28 minutos e que podem ser assistidas em forma de “maratona”. E o maior coelho da cartola em “Cara x Cara” não é o puro entretenimento, mas a reflexão causada por essa busca de nossa melhor versão que “alegoricamente” se representa em um clone. Porém, em nossa vida real, nossas redes sociais são “forçadas” pelo sistema deste mundo a ser nossa melhor versão. Mas, afinal, o que é ser nossa melhor versão? Assista ao Platão da modernidade chamado Netflix e reflita.