Jogos de digitação sempre foram meus preferidos, mas preciso fazer meu mea culpa: eles são estranhos, né? Eles são extremamente divertidos, não me entenda mal, mas eu queria entender o que passou na cabeça de alguém que pegou um FPS em trilhos e falou “taí, bora colocar umas palavras pras pessoas digitarem agora”. Esse foi o primeiro tipo de coisa que pensei quando vi TYPECAST, um bullet hell em arena que usa o teclado todo pra atirar contra os inimigos. Finalmente a resposta para a grande dúvida do que aconteceria se uma máquina de escrever se tornasse uma metralhadora mágica.
Sem muita historinha ou contexto, você assume o controle de um orbe mágico, movimentado pelo mouse (de forma muito precisa, inclusive). Em volta dele, existe um círculo que mostra o alcance do tiro que a esfera pode dar nos inimigos. O grande pulo do gato aqui é que cada um dos inimigos tem uma letra em seu corpo, e a única forma de atirar neles é apertar a letra certa quando o monstro está dentro do raio de ataque. Por mais que você não digite palavras, ele pede tudo que um jogo de digitação busca: rapidez e precisão ao apertar as teclas.
É realmente bem divertido e mais difícil do que eu pensava, com uma profundidade de gameplay que eu não esperava. As primeiras ondas de inimigos só usam as letras WASD (normalmente usadas ao jogar com teclado), e, conforme você avança, as teclas em volta começam a aparecer. Ele consegue pedir ainda mais precisão que um bullet hell normal, porque não tem como você só atirar sem parar: se apertar um botão sem ter um inimigo pra atirar com aquela letra, o orbe “enguiça” e fica vulnerável por alguns segundos até voltar ao normal.
Mas TYPECAST consegue adicionar ainda mais uma camada nisso, uma que nem eu consegui dominar direito mesmo depois de horas de jogo. Apertar o botão errado trava a possibilidade de atirar por uns segundos sim, MAS se fizer isso exatamente na hora de tomar dano por um projétil, você reflete a bala de volta (como um parry). Eu não consigo jogar tão bem assim ainda, mas deve ser bem legal ver alguém sabendo usar isso e destruindo tudo de uma forma ainda mais inteligente.
Com tantas camadas de mecânicas, até que faz sentido a proposta 100% arcade do jogo. O único foco de TYPECAST é que você aprimore sua maestria com todas essas habilidades, maximizando sua pontuação em cada partida. Por mais que isso tenha seus amantes, eu esperava um pouco mais de opções para uma experiência single-player mais interessante. Podia ser uma lista de conquistas, ou algum tipo de desbloqueio de skins, qualquer coisa que me fizesse querer jogar por mais de três partidas de uma vez. Eu sei que tem gente que se anima com leaderboards, mas não sou essa pessoa e ficaria feliz com um pouco mais de conteúdo.
Eu adoro como jogos de digitação podem assumir todas as formas e temas, mesmo que seja integrando uma atividade que não é necessariamente lembrada como “divertida”. TYPECAST não só consegue fazer isso de forma primorosa e bem mais natural que outros títulos do gênero, como acaba tornando a experiência de bullet hell ainda mais focada em precisão e raciocínio rápido. Eu não esperava tantas camadas de mecânicas e tanta profundidade de gameplay em um joguinho de digitar, mas sempre estamos nos surpreendendo. É uma pena que o foco total na experiência arcade afaste um pouco quem não liga tanto para pontuações e rankings, mas ainda vale a pena conferir.
TYPECAST está disponível para PC na Steam.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelo time de desenvolvimento para a produção deste texto.