Turbo Kid Turbo Kid

Turbo Kid: no caótico futuro de 1997 faltam recursos, mas sobram anos 80 | Crítica

Turbo Kid traz a bela combinação de um cenário pós-apocalíptico, bicicletas e sintetizadores

Turbo Kid (2015) é uma produção canadense e neozelandesa dirigida e roteirizada por François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, em sua estreia num longa-metragem. O trio já havia demonstrado seu apreço pela estética anos 80 em curtas como, Ninja Eliminator (2010), Demonitron: The Sixth Dimension (2010) e ainda T is for Turbo (2011), que já apresentava a proposta de Turbo Kid.  A maestria em trabalhar com baixo orçamento e criar uma atmosfera retrô atrativa é muito bem demonstrada no longa que retrata o futuro pós-apocalíptico de 1997 numa terra desértica, misturando elementos como quadrinhos, videogames e boas doses de violência gráfica ao som de sintetizadores.

Como grande parte dos filmes pós-apocalípticos, o longa começa com um narrador explicando brevemente o que houve e em que época estamos, basicamente o cenário de destruição e abandono se deve a confrontos nucleares que contaminaram a água e acabaram com a maior parte dos recursos, incluindo combustível. Neste cenário, ao invés de carros tunados como em Mad Max, o principal meio de transporte é a bicicleta, o que garantiu um interessante e inusitado elemento de cena e ainda uma solução econômica tendo em vista o orçamento restrito.

O protagonista (Munro Chambers) é um adolescente solitário fascinado por quadrinhos, que mora num bunker e teve seus pais assassinados pelo vilão ditador daquela região, Zeus, interpretado pelo veterano Michael Ironside.  Zeus é um vilão caricato de tapa-olho que promove torneios de luta ao estilo “Mortal Kombat” onde o sangue que jorra dos combatentes é aproveitado e filtrado para gerar água para aquela sociedade. Sim, a principal fonte de água da região é sangue humano! Neste contexto nada amistoso, o jovem protagonista encontra uma estranha garota, Apple (Laurence Leboeuf), que o acompanha na tentativa de sobreviver em meio ao caos.

Além da ótima ambientação oitentista, o filme utiliza linguagens presentes em quadrinhos e videogames para estruturar uma narrativa que remete às histórias de super-herói, tornando-se atrativo não só para o público mais velho e nostálgico, como também para os mais jovens. No entanto, a trama está longe de ser infantilizada e traz doses de violência gráfica propositalmente exageradas dando um tom até mesmo cômico em alguns momentos. As atuações são muito satisfatórias, com destaque para Laurence Leboeuf, cuja personagem é muito cativante e desperta curiosidade pelo seu jeito impulsivo e inusitado de agir e se expressar. Dentre as cenas mais interessantes e divertidas destaco as perseguições com bicicletas ao som de sintetizadores, e as diversas cenas de sangue jorrando de formas criativas e inesperadas, feitas com efeitos práticos. 

Turbo Kid é uma excelente pedida para os nostálgicos dos anos 80 que buscam um entretenimento descompromissado e funciona até mesmo como um bom meio de apresentar esta estética retrô às novas gerações. Com uma história intrigante e personagens bem estruturados num curioso futuro distópico, o filme tende a agradar fãs de ficção científica em geral, mas especialmente o público apreciador da linguagem de quadrinhos e videogames.  Ademais, é sempre bom prestigiar uma produção que surgiu de um estúdio independente e através de muitos apoios conseguiu apresentar um resultado interessante e original, aplicando de forma eficaz os clichês e referências oitentistas.

O filme não foi lançado nos cinemas no Brasil e está disponível no catálogo da Netflix.