Tremembé - Crítica da série true crime do Prime Video Tremembé - Crítica da série true crime do Prime Video

Tremembé (2025) | Crítica da Série | Prime Video

Tremembé, nova produção brasileira do Prime Video dirigida por Vera Egito, mergulha em um dos ambientes mais enigmáticos e midiáticos do país: a Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, conhecida como Tremembé. Com cinco episódios, a série adota uma abordagem inédita sobre figuras como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Anna Carolina Jatobá, afastando-se do sensacionalismo e voltando o olhar para o que veio depois dos crimes que as tornaram conhecidas. Confira a crítica da série:

Um olhar que começa depois do crime

Diferente das muitas dramatizações que reconstituem o assassinato dos pais de Suzane von Richthofen, Tremembé inicia sua narrativa quando a história já é pública. No primeiro episódio, Suzane (interpretada por Marina Ruy Barbosa) é apresentada durante uma rebelião, evento que leva à sua transferência para o presídio que dá nome à série. A partir daí, o foco se desloca para as relações de poder, os códigos internos e a convivência entre mulheres que carregam não apenas suas penas, mas também a vigilância constante da opinião pública.

Marina Ruy Barbosa e a construção de uma nova Suzane

A atuação de Marina Ruy Barbosa é o eixo dramático da série. Sua interpretação evita a caricatura e aposta na contenção — uma Suzane que alterna entre o controle e o cálculo, traduzidos mais por olhares do que por falas. É um trabalho de corpo e expressão que destaca a maturidade da atriz ao encarar uma figura real e ainda controversa.

O elenco de apoio cumpre bem o papel de compor o ecossistema de Tremembé, embora nem todas as interpretações alcancem o mesmo nível de profundidade. Ainda assim, a caracterização é um ponto alto da série: da semelhança física com criminosos conhecidos até a ambientação claustrofóbica que reproduz a penitenciária com notável realismo.

Estrutura e ritmo de um drama carcerário

Com cinco episódios, Tremembé é concisa e direta. Cada capítulo foca em um caso ou personagem, sem repetir a lógica do true crime tradicional. O interesse da narrativa não está na investigação, mas nas consequências — como essas mulheres vivem, interagem e se definem dentro do presídio. A estrutura lembra, de certo modo, Orange Is the New Black, mas sem o humor ou a leveza; o que existe aqui é observação social e estudo de comportamento.

A base real por trás da ficção de Tremembé

O realismo de Tremembé se deve, em grande parte, ao trabalho do jornalista Ulisses Campbell, autor de livros sobre os casos Richthofen e Matsunaga. Suas investigações serviram como ponto de partida para o roteiro, e muitos diálogos foram inspirados em anotações feitas durante visitas à penitenciária. Esse vínculo com o jornalismo transforma a série em uma espécie de “documento ficcional” sobre o sistema carcerário e as relações de poder que nele se formam.

Tremembé - Crítica da série true crime do Prime Video

Crítica: Vale à pena assistir Tremembé no Prime Video?

Reflexão sobre culpa, poder e isolamento

Tremembé evita a armadilha de humanizar ou condenar seus personagens de maneira simplista. Em vez disso, observa. O confinamento físico é também psicológico e moral, e a série se interessa por esse estado de suspensão, onde todos vivem sob julgamento — dos outros e de si mesmos.

Ao transformar o true crime em drama social, Tremembé propõe uma experiência desconfortável e reveladora. É uma produção curta e precisa, que dispensa o espetáculo e convida o público a refletir sobre o que resta de humano após o crime — e o que a sociedade faz com essa humanidade.