Transformers: O Início Transformers: O Início

Transformers: O Início – longe das garras de Michael Bay

Comemorando 40 anos de existência, franquia dos robôs que curtem Linkin Park volta ao passado para buscar um futuro

É curioso pensar que a franquia Transformers celebra 40 anos de existência em 2024, especialmente considerando que as versões dos personagens robóticos radicais que habitam o imaginário de boa parte da cultura pop são aquelas dirigidas por Michael Bay. Gostando ou não dos filmes, é inegável o sucesso financeiro de Bay ao longo dos anos. No entanto, Hollywood, em busca de lucro, acabou sacrificando a rica história dos Autobots e Decepticons, deixando tudo raso. Quando o público e a crítica se cansaram do espetáculo de explosões dos últimos longas, um ajuste de rota se tornou necessário. Transformers: O Início, como o título já sugere, volta-se para a origem de Cybertron e apresenta novas versões de personagens tão queridos, além de afastar-se tanto do núcleo humano quanto de Michael Bay.

Vale lembrar que parte do marketing do filme o vendia como um viagem ao passado dos filmes comandados por Bay. Felizmente, “Transformers: O Início” caminha com as próprias pernas e se afasta de tudo que vimos no cinema até o momento. É um recomeço tanto da franquia quanto das ideias e possibilidades para o futuro. Essa liberdade narrativa resulta numa exploração da intricada mitologia dos clãs robóticos, além de lançar luz sobre discussões sociais e políticas. Ainda que esteja restrito ao território de uma animação essencialmente infantil. Em todo caso, entrega aquilo que o fã precisava ver e aquilo que ele desejava conferir em tela.

Muito antes de Optimus Prime, Megatron e a guerra civil em Cybertron, havia Orion Pax (Chris Hemsworth) e D-16 (Brian Tyree Henry), uma dupla de robôs mineradores de Energon. Sonhador, Pax acredita que ele e D-16 podem mudar seus destinos, mesmo que não possuam a capacidade de se transformar, como as classes mais altas. Quando um terrível segredo é revelado, os amigos se unem ao carismático B-127 (Keegan-Michael Key) e a eficiente Elita-1 (Scarlett Johansson) para tentar salvar Cybertron. É nessa missão crucial que os caminhos de Pax e D-16 começam a se afastar para sempre.

Transformers: O Início ganha teaser inédito; confira
Divulgação: Paramount

“Transformers: O Início” supera um primeiro ato truncado ao apostar na interação entre os personagens e a construção e exploração do ambiente. Embora a trama dependa de referências e explicações, o espectador se mantém interessado porque o universo é cativante. Existem camadas aqui que raramente foram exploradas em outras mídias da franquia. A revolução pacífica e ideológica de Pax, contraposta à retaliação explosiva de D-16, ganha contornos para além do bem contra o mal. E essa quebra da amizade entre os protagonistas é construída de maneira orgânica, resultando em um ato final marcante e emocionante. Mesmo que previsível no fim das contas. O roteiro, escrito por Eric Pearson, Andrew Barrer e Gabriel Ferrari, se debruça sobre Cybertron para entregar uma típica aventura fantástica com toques dramáticos, o que é um grande avanço em relação às limitações narrativas dos filmes anteriores.

Conhecido por seu trabalho em Toy Story 4, o diretor Josh Cooley sabe como é a missão de extrair novos detalhes de franquias previamente estabelecidas. Ele se diverte com a possibilidade de trabalhar com um “quadro em branco”, no desenvolvimento dos personagens em benefício da história, sem se preocupar imediatamente com uma possível trilogia. Cooley não faz um filme explicitamente político, mas usa elementos políticos para ilustrar a trágica batalha entre os antigos amigos. No entanto, tanto o roteiro quanto a direção não fogem de uma verdade simples: ainda é um filme sobre robôs que se transformam em veículos, e o público quer vê-los em ação. Nesse quesito, *Transformers: O Início* não decepciona, entregando ótimas cenas de luta e uma animação fluida e visualmente bonita. Vale destacar que o 3D é dispensável.

De maneira prática, “Transformers: O Início” está de longe de revolucionar a franquia, mas se sobressai ao resgatar o coração que os filmes live-action abandonaram. Com uma trama simples, mas envolvente, o filme tem o potencial necessário para agradar os fãs antigos e cativar os novos espectadores que buscam uma diversão com robôs gigantes. Infelizmente, não temos Linkin Park tocando no encerramento.