Top Gun: Ases Indomáveis (1986) foi um marco, tanto por sua trilha sonora (vai um Take my breath away aí?) quanto pelo conflito envolvendo aviões e masculinidade e um bromance bem elaborado. Maverick também foi um personagem marcante por fazer parte daqueles protagonistas em que a rebeldia é bem-vinda, e sua insubordinação é aplaudida. E agora, na época em que todos esses clássicos estão retornando, não podíamos deixar de ter a continuação direta dele. E assim nasceu Top Gun: Maverick (2022), que veio para conquistar o coração dos nostálgicos e dos jovens que nunca viram Tom Cruise pilotando um caça.
Após 30 anos de carreira, Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é forçado a retornar à academia de pilotos Top Gun, dessa vez, como professor. Há uma missão praticamente suicida que precisa ser realizada dentro de um curto espaço de tempo e precisam que alguém ensine aos pilotos como fazer, e, na visão de Pete, a como saírem vivos dali. E, óbvio, ele é o melhor candidato para isso – mesmo que só aos olhos do seu ex-chapa, Tom “Iceman” Kazansky (Val Kilmer), que agora é um dos top dos tops.
Aliás, Val Kilmer reprisa sim o seu papel no filme. Para quem não sabe, ele teve câncer na garganta e, durante o tratamento, precisou fazer procedimentos que o fizeram perder a voz (você pode saber mais em Val, de 2021). Aqui, a sua voz foi recriada em seu momento de brilhar e não ficasse preso somente ao teclado para se comunicar.
Voltando ao plot, Maverick precisa treinar 12 jovens e escolher apenas metade para a missão, os mais qualificados, e, entre eles, está o jovem Bradley Bradshaw (Miles Teller), filho do falecido amigo do protagonista, Goose – que morreu no primeiro filme devido a uma falha no caça que o impediu de ejetar apropriadamente. E por que isso seria um problema? Aí é spoiler e você vai ter que assistir para entender, mas saiba que é um drama muito bem construído e embasado.
O filme é recheado de rimas visuais com o anterior, com momentos pontuais para cada um, de forma que os nostálgicos vão fazer imediatamente a ligação entre os dois, mas que não atrapalha em nada o novo público, pois é muito bem encaixado na construção narrativa da história. E posso alegar isso pois não reassisti ao primeiro para ver esse, e mal me lembrava de Ases Indomáveis. Além das rimas, temos também o retorno de algumas músicas que bombaram na época do seu antecessor, como Danger Zone (Kenny Loggins) bem no começo, trazendo uma abertura icônica e muito divertida.
O longa é bem imersivo, dosando bem o drama, a comédia, o romance, as cenas de tensão. Maverick continua sendo o rebelde insubordinado que é bom demais para que hajam consequências pelos seus atos, sempre se provando o melhor. A história perpassa pelos seus traumas do passado, sua vontade de se manter como piloto – lá é o seu lugar, assim ele diz -, sua insegurança em dar aulas, principalmente com seu jeito irreverente de resolver os problemas (uma coisa é ele colocar o dele na reta, e outra é colocar 12 alunos no meio do balaio), a relação dele com Bradshaw, entre outros, e rola quase um arco de redenção, com cenas “refeitas” para que Pete consiga conviver com seu passado ao “salvar” o futuro. Há uma chance de redenção com o filho de Goose, por exemplo. O longa não tem vergonha alguma em recriar situações e cenas do primeiro, trazendo um ar novo ao antigo e uma sugestão de nostalgia ao novo.
O elenco teve que suar bem a camisa para participar do filme, e valeu cada centavo de dedicação, pois as cenas de ação, onde os atores e a atriz são filmados, de fato, voando, sendo de um realismo extremo, até – uma marca que Tom Cruise gosta de deixar no mundo. Não há muito destaque para personagens secundários entre os 12 pilotos, focando mais na rivalidade entre Bradshaw e Hangman (a lá Maverick vs Iceman), e dando um pouco de luz para uma das poucas personagens femininas, Phoenix, além do jovem Ben – que começa sendo tratado como uma pessoa que provavelmente vai trazer problemas, mas logo fazendo todo mundo calar a boca ao se provar incrível no que faz. Temos também o par romântico do protagonista, Penny, dessa vez estrelado por Jennifer Connely e trazendo uma personagem que foi apenas citada em Top Gun: Ases Indomáveis. A especulação do porquê Charlotte Blackwood (Kelly McGillis) não retornou ao papel gira em torno da indústria do envelhecimento proporcionado por Hollywood (e assunto explorado em Matrix: Ressurections), em que atores e atrizes não podem envelhecer ou serão esquecidos.
A direção de fotografia também está de parabéns, com enquadramentos dignos de nota. Vale muitíssimo a pena assistir em IMAX só para prestigiar a beleza visual que é esse filme. Infelizmente, a música-tema de Top Gun: Maverick não é tão inesquecível quanto a antecessora, mas, hey, nem tudo pode ser perfeito, não é mesmo?