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Tokyo Vice – 1ª Temporada

Histórias de máfia, sejam ocidentais ou orientais, não são nada novas. Desta forma, é bem difícil inovar no gênero. Por outro lado, é importante lembrar que nem toda história precisa ser inovadora ou reinventar a roda. Tokyo Vice, nova série da HBO, conta uma história real de máfia japonesa com diversos clichês, masm ao mesmo tempo, com sua própria personalidade e estrutura. Confira a crítica a seguir sem spoilers.

Tokyo Vice conta a história real de Jake Aldestein (Ansel Elgort), um repórter americano que trabalhou em um dos maiores jornais do Japão e escreveu matérias e livros sobre a Yakuza. Em sua jornada por desvendar os mistérios da máfia japonesa, ele cruza com Samantha (Rachel Keller), uma acompanhante de boate, Sato (Shô Kasamatsu), um Yakuza iniciante e Katagiri (Ken Watanabe), um policial incorruptível.

Um começo difícil

Apesar de já revelar aqui que achei a série sensacional, o espectador precisa tirar algumas coisas do caminho antes de aproveitá-la. A primeira, obviamente, é seu ator protagonista. É sabido que Ansel possui algumas acusações de assédio sexual e fica difícil engolir o rosto do ator ao longo da história. Apesar disso, ele está muito bem no papel e seu personagem não é sempre idolatrado, mostrando algumas falhas de caráter e de ingenuidade durante a temporada. Outro problema clássico sobre obras que falam de um ocidental em um ambiente diferente é a síndrome do salvador branco. É muito clichê esse tipo de história, em que uma pessoa é inserida em um local com suas próprias regras enraizadas e que precisa de uma visão de fora para mudar as coisas. Mas como quase todo clichê, se o povo reusa é porque funciona, e aqui funciona muito bem.

Outros clichês bem comuns são as cenas de Yakuza, trazendo toda aquela vibe de filme de máfia. Elas geralmente são muito bem executadas e eu, particularmente, amo esse tipo de filme, então pra mim tá ótimo. Outra coisa que incomoda no começo é a decisão de filmar a série com uma câmera com muitos quadros por segundo. A decisão me pareceu tentar emular algo como TV, algo mais “realista” ou documental. A verdade é que dá uma sensação bem estranha no começo, mas depois você meio que se acostuma.

Tirando essas coisinhas de lado, já posso dizer que Tokyo Vice é espetacular em diversos aspectos. O primeiro é a forma como ela trata o ambiente de Tokyo do final dos anos 90 de forma imersiva e realista, ao mesmo tempo em que  trata como um lugar com suas próprias regras e “mágica”. Você se sente na pele de Aldestein, explorando e entendendo mais sobre como é trabalhar em uma empresa japonesa enquanto precisa se misturar a night life da cidade. Forçando um pouco a barra, a série às vezes tem uma estrutura de filme de super-herói, em que o personagem tem sua vida “normal” pela manhã no escritório e à noite precisa adentrar no mundo de crime, sexo e bebidas de Tokyo. Nos colocar na pele do estrangeiro em uma terra estranha é um clássico que geralmente funciona, pois aprendemos e nos surpreendemos junto com o personagem.

Os personagens de Tokyo Vice

Apesar de ter diferentes diretores (a maioria japoneses), Michael Mann dirige o piloto e serve como produtor executivo da série. O famoso diretor mostra que ainda sabe contar histórias de crimes e, com o passar os episódios, Tokyo Vice vai se tornando menos sobre jornalismo e mais sobre a Yakuza e os personagens que envolvem esse mundo. O próprio protagonista perde espaço muitas vezes para dar lugar aos ótimos coadjuvantes da série. Temos a acompanhante Samantha, que representa uma mulher estrangeira forte, buscando abrir seu próprio clube. Apesar de ser uma personagem que tem seu plot envolto pela sua feminilidade e pelo sexo, ela demonstra muitas vezes que é mais do que um par romântico.

O tema do gênero também é representado muito bem pela chefe de Aldestein, a jornalista Eimi (Rinko Kikuchi) representa como mulheres são tratadas no ambiente de trabalho no Japão até hoje. Mas o destaque dos personagens vai para Sato, um personagem complexo que não parece fazer parte da Yakuza e que possui muitas questões internas mal resolvidas. Kasamatsu consegue trazer um range dramático muito bom ao personagem, que é a estrela desta temporada, na minha opinião. Ken Watanabe me parece atuar no automático faz muito tempo, mas seu detetive Katagiri funciona muito bem na trama como mentor e figura paterna do protagonista. Seu personagem serve para fazer um paralelo com Jake, que possui problemas com sua família que ficou nos Estados Unidos.

Veredito

Tokyo Vice é uma série que vai te colocar nesse mundo da Yakuza e do Japão da virada do século XX para XXI. Tecnicamente impecável e com personagens muito interessantes, a trama muitas vezes foge da história real em que foi baseada, mas tudo isso em prol da narrativa. Possui muito sexo, muita violência e tensão – como um ambiente como esse deve ter. Na curta temporada, ela consegue discutir vários temas como honra, gênero, família, mérito e pertencimento. Muito recomendada para aquelas que curtem um jornalismo investigativo ou histórias de máfia. A série não traz nada de muito novo ao gênero, mas executa sua primeira temporada com muita maestria.

A segunda temporada ainda não foi confirmada pela HBO Max, então estou ansiosíssimo para continuar acompanhando essa história.