Togges empilha inspirações para um novo puzzle-plataforma 3D

Um dia, há muito tempo, os jogos de plataforma 3D eram o ápice da indústria de jogos. Toda empresa queria ter o seu próprio, com seu mascote pronto para vender bonecos e tentar fazer o mesmo sucesso do encanador da Nintendo. Esse tempo passou, mas hoje temos desenvolvedores independentes que mantém deles acesa, seja em aventuras tropicais ou voando pela floresta. Mesmo com tantas novas propostas, acho difícil termos visto algo tentando realmente novo como Togges, da brasileira Regular Studio. E se ao invés de apenas coletar coisas por aí, boa parte do seu objetivo fosse espalhar bloquinhos pelos mapas?

Em uma narrativa bem meta, o Rei Togge explica que você, o jogador, é o seu novo estagiário e deve dominar o mundo para que o Vazio não faça isso primeiro. A única forma de fazer isso é espalhar os Togges, esses bloquinhos coloridos bonitinhos e fofinhos, pelos diferentes planetoides que compõe o espaço. Por mais que você, usando um aspirador de Togges, possa andar, pular e chegar em qualquer lugar facilmente, seu verdadeiro desafio é como criar caminhos de blocos até cada local, já que só eles podem interagir com 80% dos coletáveis e das mecânicas presentes em cada uma das grandes fases do jogo.

Togges

É fácil ver as várias inspirações que o jogo recebe de clássicos — a estrutura aberta com centenas de coletáveis de Mario Odyssey, o uso contínuo do level design para novas interações de Mario Galaxy, diferentes tipos de “ajudantes” como Pikmin, mundos coloridos e completamente malucos como Katamari Damacy. Togges definitivamente consegue uma experiência única com essa ideia de espalhar os blocos ao invés de simplesmente chegar nos lugares. Entender como usá-los é fundamental para alcançar as várias frutas espalhadas em cada cenário. Para o bem e para o mal, ele é uma experiência levemente experimental e traz um frescor para um gênero que está aprendendo a se reinventar.

Mas essas novas dinâmicas nem sempre tem o resultado desejado. Por um lado, espalhar Togges pelo cenário é algo que é feito de forma levemente bagunçada e rápida; basta alguns segundos parado para que eles já comecem a empilhar. Por outro lado, você precisa sempre começar um caminho de blocos a partir de um que já esteja no mapa ou esteja a 1 (um!) bloco de distância. Sempre tinha uns micro-momentos de frustração quando eu tinha que estar alguns pixels mais perto do bloco para começar a construir um novo caminho, que, somados, acabavam cansando a partida mais rápido do que eu esperava.

Togges

Além disso, a estrutura e o design das enormes fases que o jogo apresenta também não me agradou tanto. Eu acho muito legal convidar as pessoas a experimentarem com sua nova mecânica, mas qualquer objeto do cenário podia ser algo relevante caso estivesse brilhando um pouco diferente do resto, por exemplo. Eu me via constantemente enchendo a fase de blocos testando todas as possibilidades, ao invés de entender pistas deixadas no design para chegar até lá.

A quantidade absurda de conceitos que eram apresentados e, depois, subutilizados também dava uma situação de muitas ideias pouco trabalhadas. A forma como todo o seu progresso conseguido durante uma fase (como o limite de Togges presentes ao mesmo tempo) resetava em cada mundo também era outro ponto de quebra na crescente do gameplay.

É engraçado como, dentre as várias formas de obter as frutas (o principal coletável do jogo), a minha favorita eram as Star Doors. Funcionando como pequenos níveis em cada mundo, eles eram muito mais focados em uma única mecânica e conseguiam iterar muito bem a mecânica de espalhar blocos dentro dela. Até a forma como você completava cada uma — uma fruta ao final da fase e outra ao conseguir todos os itens adicionais — era muito simples de entender e fazia o level design delas muito mais divertido, lembrando até os pequenos puzzles de diorama de Captain Toad: Treasure Tracker. Eu adoraria ver um spin-off de Togges focado nessas pequenas experiências ao invés de enormes mundos sem muita narrativa.

É tão bom ver novas ideias vindo para um gênero que gosto tanto e Togges, definitivamente, é uma proposta muito refrescante para os fãs de plataformas 3D. Focando mais no quebra-cabeça constante em fazer os bloquinhos chegarem onde você quer, ele mostra um mundo sem pé nem cabeça, mas que consegue divertir caso você goste de sua proposta. É uma pena que a execução dessas dinâmicas e a estrutura e design das fases não consiga trazer todo o potencial que ela tem pra mostrar, mas, ei, toda nova ideia tem que começar de algum lugar, não é mesmo? Togges não é uma experiência ruim, mas não vejo a hora de evoluir e tornar-se excelente.

Togges está disponível para PC na Steam, para PlayStation 4 e PlayStation 5, para Xbox One e Xbox Series e no Nintendo Switch.

*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.