The Repair House é só a parte chata de consertar coisas

Boa parte da minha infância foi passada desmontando e consertando coisas na oficina do meu pai. Cada novo aparelho que não funcionava era quase uma caixa mágica, pronta para ser debulhada e descoberta conforme a gente ia experimentando coisas. Quando eu vi que The Repair House: Restoration Sim prometia simular esse ambiente de consertos (e prometendo muita variedade de objetos), pareceu ser a alternativa perfeita para relembrar como era divertido ver o que tinha dentro de cada coisa sem necessariamente ter que reaprender eletrônica ou botar a mão numa chave de fenda.

O jogo começa te mostrando as mecânicas básicas com um simples tutorial. Você recebe pedidos com objetos a serem consertados, mostrando qual peça está quebrada e precisa ser trocada. Você leva o objeto até a mesa de trabalho, desmonta ele clicando nas partes e parafusos até que ele se desfaça sozinho e retira a peça quebrada. Depois disso, você usa um catálogo para pedir peças de reposição, que chegam imediatamente. Você usa o inventário, remonta o objeto com a nova peça, coloca ele na caixa de volta e pronto! Você concluiu o seu primeiro conserto em The Repair House!

The Repair House: Restoration Sim

…e o segundo pedido também. E o terceiro também. O quarto, o quinto, o sexto também. Sinceramente, depois de quase 10 horas de jogo, eu não sei se algum conserto é realmente diferente disso que descrevi. Você clica no telefone, vê quais peças vão precisar ser trocadas, vai clicando no objeto até que desmontar o suficiente, pede as peças no catálogo, remonta e começa de novo, ad infinitum. Sem contar todas as mecânicas ainda mais irritantes de tempo real, que você precisa esperar 2 dias do jogo para receber uma peça — e quando sua oficina já chegou no limite de pedidos, a única opção é, literalmente, passar os dias manualmente sem fazer absolutamente nada.

Com muito (mas muito) custo, eu consegui desbloquear uma mesa de pintura para poder ter alguma outra coisa pra fazer, até perceber que você precisa PAGAR pela tinta que você usar e ela não é nada barata. Ah, sim, parte do “desafio” em The Repair House é controlar também os gastos da sua oficina de reparos, incluindo pagar o aluguel do galpão toda semana. Mesmo assim, as pinturas também são requisitadas nos pedidos dos clientes e tornam-se obrigatórias quando necessárias. Ou seja, no fim das contas, é só mais um botão pra clicar, sem nenhum tipo de decisão, agência ou personalidade dos jogadores.

The Repair House: Restoration Sim

Eu sei que simuladores como esse podem ser sempre vistos como “trabalho no videogame”, mas é sempre fácil de perceber como bons simuladores trazem algo a mais para a experiência dos jogadores que uma pura transformação de atividade em mecânica. Alguns permitem a fantasia de uma atividade muito arriscada e inacessível, como pilotar um avião em Flight Simulator. Outros aproveitam a fácil identificação temática para criar uma experiência mais gamificada, criando momentos satisfatórios ou atiçando a curiosidade dos jogadores. The Repair House não faz absolutamente nada disso e parece mais uma casca vazia.

Toda a parte realmente interessante de consertar objetos é em descobrir como as coisas funcionam. Testar cada parte, procurar o defeito, como uma “caça ao tesouro” que, no fim das contas, é só a metade do caminho, porque depois que o defeito foi encontrado, ele precisa ser resolvido. Lembrar como remontar um eletrônico complexo, tentar encontrar as resistências e capacitores certos, até refazer peças que não podem ser recuperadas ou limpas. Tudo isso não existe aqui: você só clica onde foi mandado e sente que está jogando. É engraçado pensar que até vídeos virais de conserto conseguem atiçar algumas das coisas que falei e um simulador interativo não.

Não dá pra dizer que The Repair House é um jogo mal executado — não que seja um primor de execução também, mas tudo que ele pretende cumprir, ele faz de forma razoável. O problema está em seu conceito de tentar trazer a experiência de uma atividade tão divertida e intrigante como consertar coisas para um monte de menus que você clica sem precisar pensar em nada. Gráficos podem ser melhorados, mecânicas podem ser rebalanceadas e conteúdos podem ser adicionados, mas se tem uma coisa que é difícil de consertar em um jogo é um conceito pobre e nada divertido. Mesmo numa oficina dessas.

The Repair House: Restoration Sim está disponível para PC na Steam.

*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.