Por mais que jogos sejam obras que não dependam apenas do visual para cumprir seu papel, quando um deles consegue impressionar os olhos, é muito fácil conseguir a atenção das pessoas — e a minha definitivamente foi ganha na primeira vez que vi o trailer de The Many Pieces of Mr. Coo. Na verdade, ele nem parecia um jogo, mas uma daquelas animações experimentais e levemente macabras que passariam sem nenhum problema em algum programa da TV Cultura, sabe? Aquelas que misturam animação tradicional com fotografia e stop motion e provavelmente foi feita num país que você nunca ouviu falar? Felizmente, ele é uma pequena experiência surreal, mesmo nos seus momentos de interatividade.
É difícil explicar a trama de The Many Pieces of Mr. Coo, mesmo depois de ter chegado no final da história, que durou um pouco mais de uma hora. Em um mundo bizarro, vive Mr. Coo, um pequeno ser amarelo que está atrás de um presente que ganhou. Mas a reviravolta é que ele é capturado e é dividido em três partes: cabeça, torso e pernas. Sua missão é ajudar nosso pequeno amarelinho a sobreviver sua prisão absurda e conectar suas partes de novo. A verdade é que ele não precisa fazer sentido pra ser bom, e essa loucura ajuda a dar o tom do que você está prestes a jogar desde o começo.
Como eu já comentei, não tem como não se impressionar com o visual desse jogo, é realmente como se você tivesse interagindo com um desenho animado na TV. Acho que o mais próximo que posso citar como comparação é o clássico Dragon’s Lair, mas com uma execução ainda melhor e sem prejudicar no controle dos personagens. Eu também lembrei bastante daqueles jogos antigos de CD-ROM, em que você passava horas clicando em todos os objetos do cenário só pra ver as pequenas piadinhas animadas que iriam aparecer. Enquanto jogos como Hi-Fi Rush e Cuphead se inspiram em animações para criar uma experiência interativa, The Many Pieces of Mr. Coo é realmente uma animação interativa e é impressionante.
Mecanicamente falando, ele é um point-and-click bem tradicional, com puzzles para serem resolvidos em cada ato da história, clicando nos objetos para mover as partes do Mr. Coo e fazê-las realizar ações para resolvê-los. Não são desafios incríveis, mas são interessantes o suficiente para manter a jogatina intrigante. Os cenários e as situações surrealistas dificultam entender o que é cada objeto e como interagem uns com os outros e com o Mr. Coo, mas a pouca quantidade de opções e um sistema até que robusto de dicas ajudam a diminuir os momentos frustrantes. Não usar palavras em momento algum é uma faca de dois gumes: não há barreira de linguagem, mas você precisa estar atento aos sinais visuais sempre para passar de cada fase.
A versão de PC disponível na Steam não tem muitos problemas de performance — pelo menos, não durante a minha experiência com o jogo —, por mais que melhorias de interface e pontos de salvamento mais frequentes seriam muito bem-vindos em atualizações futuras. Dito isso, já há reclamações constantes de bugs e travamentos nas versões de console, então vale a pena ficar de olho caso você esteja pensando em jogar The Many Pieces of Mr. Coo no Switch ou no PlayStation.
A animação como forma de expressão artística é incrível e não cansa de mostrar seu potencial a cada ano, com novos filmes, novas séries e curtas, mostrando mundos mágicos e imaginativos que nunca seriam possíveis na vida real. The Many Pieces of Mr. Coo é uma das provas de que, ao juntar todo esse ferramental com a interatividade dos videogames, funciona muito bem para criar experiências ainda mais surreais. O jogo é longe de ser perfeito e definitivamente termina bem antes do que eu esperava, mas gostei muito de brincar um pouco com o Mr. Coo e fico na espera de novas aventuras com o meu amarelinho tripartido.
The Many Pieces of Mr. Coo está disponível para PC na Steam, para PS4 e PS5 na PlayStation Store e no Nintendo Switch.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.