Na primeira cena de The Idol, nova superprodução da HBO, uma personagem afirma que “ter problemas de saúde mental é sexy”. O diálogo é sobre a protagonista Jocelyn (Lily-Rose Depp), uma superestrela pop que tenta retomar a carreira após um surto psicótico decorrente da morte de sua mãe. Ainda na mesma cena, um coordenador de intimidade alerta à diva que ela não pode exibir seus seios por conta do contrato que proíbe nudez explícita. O esforço é rechaçado pela equipe de Jocelyn e o coitado termina preso num banheiro. Usei esses trechos para exemplificar a essência da série. The Idol tenta soar disruptiva e intrigante, mas é apenas ruim.
Criada por Sam Levinson (de “Euphoria”), Reza Fahim e Abel Tesfaye (The Weeknd para os mais íntimos), a série se vale muito mais das polêmicas dos bastidores do que da sua própria qualidade para fisgar a atenção do público. Caso você não saiba, um artigo da Rolling Stone revelou o clima caótico dos bastidores e que a antiga diretora da série, Amy Seimetz, foi demitida por dar uma visão “extremamente feminina” para a produção. Com toda a liberdade nas mãos, os criadores destilaram os sonhos molhados de homens que desejam mulheres que jamais terão. Deveria ser uma crítica sobre a forma como a indústria trata a imagem feminina, mas tudo soa raso e sem nenhuma sutileza.
Não sobra espaço para a interpretação do espectador. Jocelyn é constantemente comparada com Britney Spears, por conta de sua vida conturbada. Até mesmo cenas de Instinto Selvagem são usadas em algum momento. A crítica internacional pintou The Idol como o novo Blonde. E antes tivesse uma atuação no nível de Ana de Armas na série para entregar algum tipo de emoção. Não me entenda mal, ainda estamos diante de outro desserviço para as mulheres. Mas nesse caso não existe nem a capacidade de gerar algum tipo de debate posterior.
Outro agravante está justamente no elenco principal. Lily-Rose Depp se esforça, mas não convence. Não demonstra o magnetismo de uma diva pop e nem a fragilidade de uma mulher constantemente castigada pela indústria musical. The Weeknd é ainda pior, beirando o ofensivo. Curioso constatar que um artista marcado por músicas sexys é incapaz de entregar qualquer tipo de química sexual em tela. O primeiro encontro dos personagens, que deveria ditar os rumos da série, é extremamente anticlimático. Ver a dupla interagindo é a verdadeira polêmica da produção.
Tudo que falei é referente apenas ao primeiro episódio de The Idol. A promessa é de que muitas cenas chocantes estão por vir, do tipo que deve viralizar no Tik Tok. Depois da despedida de Succession é frustrante saber que essa é a nova série de domingo da HBO. Sem dúvidas não é a música que vai estourar nas rádios.