Vendido, meio que sem querer querendo, como possivelmente o melhor filme de super-heróis já feito, The Flash não atende a essa expectativa, mas cumpre muito bem o papel a que se propõe e traz uma boa diversão para quem vai despretensiosamente ao cinema.
Barry Allen (Ezra Miller) se tornou uma espécie de zelador do Batman (Ben Affleck), que já inicia o filme numa perseguição frenética que prova novamente como esse novo morcegão da DC é apenas um psicopatinha muito rico e que tá cagando para a população. Além disso, o resto da sua vida não tá tão melhor, pois basicamente não tem amigos (o Bruce Wayne dá uma dispensada no coitado, esse otário, porque se acha o Homem de Ferro do seu Homem-Aranha), nem namorada e seu pai irá ser julgado pelo assassinato de sua mãe. Apesar de Barry saber que o pai é inocente, não há provas que corroborem isso, o que o leva a tomar uma decisão impulsiva: voltar no tempo e salvar sua mãe, pois assim estaria salvando ambos, pai e mãe.
O jovem super-herói se convence de que as consequências seriam pequenas, já que é um fato que não faz diferença para o mundo ao seu redor, mas não poderia estar mais enganado e acaba parando em um “presente” alternativo. Seus pais estão vivos e muito bem, mas aquele não é o seu presente: é o de um Barry de 18 anos com uma vida completamente diferente da sua. Confuso, Flash precisa descobrir como voltar para o seu tempo.
Rapidamente o filme seta algumas regras, e uma delas é: Flash precisa consumir muitas calorias ou não conseguirá exercer plenamente os seus poderes, e isso é marcado por uma espécie de relógio no seu pulso, que lhe diz sempre em que pé a sua energia está. E por que destaco essa? Porque é uma regra que eles jogam pra casa do c***** depois que fazem piadas o suficiente sobre comida, para que a trama ande sem ter que ficar voltando ao mesmo ponto – o que dá meio que para perdoar, mas me faz perguntar por que vão bater tanto numa tecla que eles vão jogar fora depois.
A história começa já apresentando um quadro cômico do personagem, antes de abordarem algo mais sério, como a morte da sua mãe, o seu luto não superado, o desespero de perder seu pai também para um sistema injusto. Com um CGI bem preguiçoso e que deixava tudo parecendo um jogo de videogame de 2005, as cenas de ação ficaram um pouco estragadas por causa disso, pois você se distrai com o quão ruim tá aquilo. O que vale a pena de porrada no filme são as cenas com o Batman do Michael Keaton, que provou, mais uma vez, ser o melhor homem-morcego da DC, com direito a cenas vibrantes.
Apesar dessa falha, eu falo com muito pesar que a atuação de Ezra Miller como Barry Allen mais velho e Barry Allen de 18 anos está impecável, não tendo como falar mal. Ele interagindo com ele mesmo é um dos pontos mais altos do filme, fazendo duas personalidades tão distintas que não tinha como confundi-las. Você sabe imediatamente quem é quem. Por um lado temos o Barry inseguro, introvertido e com problemas de socialização, e do outro, o Barry recém-saído da adolescência, muito otimista, bobalhão e empolgado com tudo. E isso tudo é meio que uma pena, quando pensamos no tipo de ser humano que Ezra Miller realmente é, totalmente longe do caráter do super-herói, sendo, na real, bem vilanesco e culpando possíveis transtornos mentais, como se isso fosse desculpa para atos criminosos. The Flash vai fazer com que muita gente passe pano para ele por causa da atuação, infelizmente.
As outras pessoas do elenco estão excelentes também. A seleção do casting, por mais que pautada bastante na nostalgia, foi maravilhosa, e não consigo apontar uma atuação que não tenha sido ótima.
Falando em nostalgia, foi algo que pesou muito no filme, é quase o pilar principal em The Flash, apostando todas as fichas em personagens que gostamos de agora e do passado, por mais longínquo que seja. Se você gosta de comprar histórias que o único intuito é apelar para o seu emocional, deixando de lado uma trama mais complexa, redondinha e encorpada para dar lugar para mais do mesmo, pode ser que ache o longa incrível. Porque a premissa batida, repetitiva e nostálgica é o mote em The Flash.
As personagens femininas no filme, por melhores que sejam, apenas servem aos propósitos masculinos da trama. Iris West (Kiersey Clemons), por exemplo, aparece exclusivamente para ser o antigo/novo interesse romântico de Barry, e, sem mais nem menos, está caidinha por ele – apesar de fazer bastante tempo que não conversam. Até mesmo o novo amor da minha vida, a Supergirl (Sasha Calle), acaba na trama apenas para servir aos propósitos de Barry e depois ser facilmente descartada. Dou logo esse aviso, porque há muita expectativa em cima da personagem.
The Flash ainda dá uma sambada na sombra que o Snyderverso deixou, o que é outra pena. O filme tinha muito potencial, completamente desperdiçado com mais do mesmo. A trama inicia em um ponto e basicamente acaba no mesmo, com aquele velho plot de “protagonista causa grande confusão que ele vai ter que limpar, destruindo e arruinando a vida de muita gente no caminho, apenas para que ele aprendesse uma única lição”, que ele nem aprende direito, no fim das contas.
O filme diverte pra caramba se você se ater ao superficial. Se quiser enxergar para além do CGI ruim, vai encontrar muito problema e talvez arruíne a sua experiência. Ele serve a esse propósito de entreter com muito riso (e talvez fazer com que todo mundo passe o mesmo pano que a DC tá passando pro Ezra Miller). E apenas isso. The Flash traz um excelente protagonista, apesar de não haver realmente um arco evolutivo pra ele, que, eu espero, morra na praia.
PS: Sim, Ezra Miller, eu tô olhando pra você e torcendo para que vá pro seu lugar: a cadeia, ou o esquecimento, o que vier primeiro.