É irresistível olhar para tudo que cerca “The Acolyte” e pensar: nossa, mais uma história sobre os Jedi? Por mais que possa parecer apenas isso, a nova série do Disney+ caminha pelo âmago da criação máxima de George Lucas. Não importa o nível de semelhança, nenhuma história de “Star Wars” é completamente igual à outra. E entre erros e acertos, as produções de streaming da saga não têm vergonha de explorar lados mais extremos da galáxia tão distante. Dito isso, sim, “The Acolyte” é uma série sobre os Jedi. Mas, ao julgar pelo tema e pelos dois episódios lançados, parece querer explorar os tons de cinza dos famosos mocinhos.
Ambientada 100 anos antes do surgimento do Império, “The Acolyte” mostra a Ordem Jedi em seu auge de poder e influência política. Porém, quando um crime misterioso é cometido, as atenções se voltam para a ex-Padawan Osha (Amandla Stenberg), que agora ganha a vida consertando naves. Cabe então ao Mestre Sol (Lee Jung-jae) descobrir a verdade antes que as consequências sejam irreversíveis. Por mais que muitos ainda tentem negar, “Star Wars” é uma saga política também. Basta assistir a um episódio de “Andor” para comprovar. E mesmo que não esteja no mesmo nível da criação de Tony Gilroy, a série se apresenta mais madura do que fiascos recentes como “Obi-Wan“.
A escolha de Leslye Headland (“Boneca Russa“) como showrunner indica a busca da série por essa maturidade. E o texto dela transita entre tons sérios e um humor meio ácido. Por mais que as implicações dos acontecimentos possuam um escopo muito maior, o roteiro prefere focar na intimidade dos personagens. Contudo, o começo é bastante irregular. “Perdido / Encontrado” é o típico episódio que estabelece a base da temporada, entregando o estopim de tudo logo em sua primeira cena. Os próximos minutos são dedicados a uma rápida contextualização do cenário e apresentação dos personagens. Como são apenas oito episódios, existe uma pressa para que as peças se movimentem no tabuleiro e pontos de conflito sejam entregues ao espectador. Tudo é muito óbvio num primeiro olhar. Prefiro pensar que as reviravoltas dos próximos capítulos irão tirar essa impressão amarga.
“Vingança / Justiça” começa a mergulhar no mistério que cerca o passado de Osha e como a figura dos Cavaleiros Jedi não parece ser tão benevolente como as histórias contam. Aliás, é interessante notar como a arrogância da Ordem os impede de perceber que nem todos estão satisfeitos com a presença opressora dos Jedi pela galáxia. As respostas não ficam muito claras, além do que o espectador consegue deduzir por conta própria, mas tudo indica que os próximos episódios devem mergulhar na trágica noite em que Sol e seus aliados encontraram Osha e como tudo se liga ao presente.
Além do teor conspiratório e misterioso, “The Acolyte” não se afasta muito da magia cativante de “Star Wars”. Temos novos planetas, criaturas estranhas e cenas de luta com sabres de luz com bastante uso da Força e toques de Wuxia que podem agradar os fãs que clamam por um pouco de ação para equilibrar os debates ideológicos. Os personagens carecem de carisma suficiente para estabelecer uma ligação com o espectador, o que pode ser resolvido na medida em que a trama avançar.
Não posso afirmar que a série irá mergulhar fundo na mitologia dos Jedi da mesma forma que “Ahsoka” fez, porém, é sempre revigorante perceber que ainda existem histórias em Star Wars para serem exploradas. Se são boas ou não, só o tempo irá poder revelar.