Não é de hoje que palhaços são uma ferramenta bastante efetiva na hora de contar uma boa história de terror. Apesar de toda a fama de Pennywise, existe toda uma carga histórica anterior a grande criação de Stephen King. E um legado que se estende até os nossos dias, renovado de tempos em tempos com obras cobertas de maquiagem colorida e vísceras. Clown é um desses exemplares, que reconhece sua árvore genealógica e honra seus ancestrais.
Sendo produzido por Eli Roth, responsável por arrebentar cabeças nazistas em Bastardos Inglórios e por algumas pérolas do terror atual como O Albergue e Cabana do Inferno, Clown é deliciosamente sádico e divertido. Ignorando qualquer alerta de cafonice, o longa se leva a sério durante os 100 minutos de duração. Transformando assim potenciais deslizes de roteiro em cenas banhadas por um humor negro afiado.
Na trama, o jovem Jack (Christian Distefano) é um grande fã de palhaços, tanto que escolheu esse tema para o seu aniversário. Mas quando o cara contratado por sua mãe Meg (Laura Allen) acaba dando para trás, cabe ao seu pai Kent (Andy Powers) salvar o dia. Trajando um antiga fantasia, o inocente corretor de imóveis faz a alegria da criançada. Porém, Kent logo percebe que não consegue se desvencilhar da roupa. E pior, está começando a sofrer algumas mudanças bastante drásticas.
Ciente de sua missão, Clown não abre espaço para enrolações. Kent logo descobre o terrível destino que o aguarda, embarcando assim em uma luta contra o tempo até que a maldição da roupa de palhaço o consuma por completo e sua fome por crianças seja incontrolável. Eis aqui o primeiro ponto positivo do longa: sua maldade. Sim, crianças são mutiladas e devoradas. Destaque para uma cena angustiante dentro de um brinquedo de parque.
Clown também se destaca por investir em uma mitologia própria. Deixando de lado as origens na Idade Média, o filme coloca os palhaços como demônios da mitologia nórdica que se alimentam de crianças para sobreviverem ao rigoroso inverno. Com o tempo, o mito foi dando lugar a figura do palhaço como conhecemos hoje. Mas o mal nunca dorme, fica sempre esperando uma oportunidade para atacar.
A direção aqui é de Jon Watts, hoje mais conhecido como o cara que comandou Homem-Aranha: De Voltar ao Lar. Curiosamente, Clown ficou no limbo de sua carreira. Foi Cop Car, longa policial estrelado por Kevin Bacon, que chamou a atença da Marvel. Com todos os holofotes voltados para ele, era a hora perfeita para resgatar filme. Outro ponto interessante é que o terror funciona como um ele entre Jon e o melhor diretor que o Amigo da Vizinhança já teve: Sam Raimi. Já que esse também começou sua carreira com o seminal A Morte do Demônio.
Clown habita uma interseção entre It – Uma Obra Prima do Medo e o fanfarrão Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, flertando muito mais com o sadismo do que com a bobagem. Uma ótima pedida no catálogo da Netflix para assistir com seu amigo que tem Coulrofobia.