Convite para desacelerar o tempo e contemplar aspectos da vida faz de Tales from the Loop uma belíssima série sci-fi para poucos
Para. Respira calmamente. Esquece por um tempo qualquer distração que possa desviar o seu olhar. Fez isso? Agora dá o play que você vai ler sua primeira crítica com trilha sonora.
Como Tales from the Loop é inegavelmente uma dessas séries que reparte o público em lados opostos, certamente sua trilha é um excelente indicativo para saber se ela é para você ou não. Caso goste do que está ouvindo, existem fortes indícios de que está diante de uma nova paixão.
Criada por Nathaniel Halpern (The Killing; Legion), tendo como base de inspiração as belíssimas artes do sueco Simon Stålenhag, a produção original da Amazon Prime Video nos leva a Mercer (Ohio), uma tranquila cidadezinha de estilo retrô com intrigantes estruturas de design futurista. O momento da existência humana não sabemos ao certo, assim como a real função dessas construções de diversos tamanhos (incluindo surrados robôs) que se misturam à paisagem da bucólica cidade. Nela, um laboratório científico subterrâneo chamado The Loop abre possibilidades para situações extraordinárias serem vividas por seus moradores.
Imagine a série Além da Imaginação – com seus episódios trazendo sempre novas histórias envolvendo elementos que fogem da nossa compreensão – adotando uma abordagem contemplativa e profundamente delicada. Para quebrar com o formato de antologia convencional, as diferentes narrativas são costuradas através dos personagens, que reaparecem ao longo dos oito episódios alternando o protagonismo.
Mas veja, os fenômenos da série não são seu foco. Eles estão lá apenas como ferramenta. Ao alçar um coadjuvante a protagonista, Tales from the Loop promove a possibilidade de humanizarmos quem antes parecia só compor determinadas cenas. Um inteligente recurso do roteiro que enfatiza o que realmente importa na série: direcionar o olhar para o aspecto humano, atentando-se para desejos e dores de nossa efêmera existência.
E se nos encontrássemos, por um breve espaço de tempo, com nossa versão ainda criança num momento extremamente delicado? Ou pudéssemos lidar com um forte trauma do passado o ressignificando de uma maneira completamente improvável? A série divide seus contos por temas como solidão, amor, tempo e morte, sempre tornando os enredos de alguma forma cíclicos, preservando a ideia do loop estampada no título.
Interessante mencionar que as narrativas não buscam entregar uma mensagem necessariamente fechada. Nesse ponto, cabe até dizer que a série interage com você (outro loop?) e, dependendo da sua história de vida, determinado episódio pode ser mais ou menos marcante. Falas como “Acontece que nem tudo na vida faz sentido”, “Nada dura para sempre” ou “As pessoas não gostam do diferente”, podem funcionar como tiros no peito e, ainda, reforçam o tom melancólico (e igualmente belo) da produção.
Ainda que as histórias possam bater de forma diferente no espectador, alguns temas trazem enredos menos inspirados que outros. Por sorte, o elenco afiadíssimo, que conta com nomes de destaque como Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation) – contracenando com um primoroso cast de atores-mirins (destaque para Duncan Joiner e seu questionador Cole) –, equilibra isso entregando comoventes atuações.
Como tudo na série sci-fi remete ao efeito circular do loop, seu desfecho (dirigido por Jodie Foster) amarra pontas do início. Ao martelar que “a vida passa num piscar de olhos”, Tales from the Loop nos provoca e faz pensar sobre nossas escolhas. Misturando punhados de tristeza, alguma esperança e muita poesia, a produção que ambiciona eternizar uma experiência única convida você a parar, respirar calmamente e, mais do que nunca, apreciar o que realmente importa.