Makoto Shinkai pegou o mundo de surpresa com o seu fantástico Your Name. Desde lá, a expectativa vem sendo alta para seus lançamentos no cinema. Será que Suzume, seu novo filme, atende essas expectativas?
Suzume é só mais uma estudante do interior que um dia está indo para a escola e encontra Sōta, um rapaz em busca de uma porta em umas ruínas da sua cidade. Intrigada, ela segue o moço e acaba libertando um totem em formato de gato falante que estava guardando a porta contra criaturas que se libertam e causam terremotos. Os dois partem em uma jornada pelo Japão atrás desse totem para que ele volte para seu posto e impeça mais terremotos.
Se você ficou um pouco confuso com a história base do filme, então está sentindo o mesmo que eu enquanto assistia. Toda a parte sobrenatural do longa é cheia de regras que aparecem e somem quando importam para a narrativa sem muitas explicações. Mas esse plano de fundo é somente uma das camadas para falar sobre temas como trauma, luto e perda em um país que já sofreu muitas catástrofes por causa de terremotos e tsunamis.
Onde o filme falha na sua primeira camada narrativa, ele acerta nas demais. O longa tem uma estrutura de road movie em que os personagens vão visitando diversos lugares e conhecendo pessoas que os ajudam e ficam para trás. Cada cidade que visitam possui ruínas de locais onde aconteceram terremotos, mostrando que isso acontece por todo o país e pode acontecer com qualquer um. Dessa forma o roteiro desenvolve personagens cativantes para gerar empatia mostrando pessoas que tiveram que passar por essas situações, que perderam familiares e passaram por traumas. A própria personagem principal também passou por isso e o longa faz um bom trabalho em revelar os detalhes da sua perda aos poucos durante a narrativa.
Como sempre, a parte técnica dos filmes de Shinkai é um deleite aos olhos. Cada detalhe, cada cena de lugares comuns e coisas do cotidiano faz o expectador imergir naquele lugar. É como se pudéssemos sentir o corrimão frio de uma escada de Tokyo ou sentir o cheiro da comida sendo feita. É uma pena que o diretor atualmente comentou que pensa em usar IA em seus filmes por “falta de mão de obra”. Conhecendo as complicadas condições de trabalho de alguns países asiáticos, sei bem que tipo de mão de obra é esse que ele está falando.
Suzume é mais um acerto de Makoto Shinkai mas que ainda está bem longe de se comparar a Your Name. Eu não acho injusto fazer essas comparações pois o diretor continua utilizando temas e ambientações muito parecidas em suas obras. É uma animação que tem problemas em seu roteiro, apresentando um romance um pouco forçado e não sendo muito claro nas regras do seu mundo. Mas quando você começa a pensar no que ele está tentando realmente falar, é bem impactante para um público (japonês) que já sofreu tanto com desastres naturais. Talvez ele seja mais como um Akira, que se inspira na bomba atômica para contar sua história de ficção científica, conversando mais com o japonês do que com o público internacional. Outra falha grave é que o longa não utiliza bem o fofinho gato falante Daijin, sendo somente uma ferramenta narrativa para fazer a história andar. Apesar de tudo, é um lindo road movie que vai te emocionar.