Eu sei que coletâneas de minigames não são o estilo de jogo mais amado, mas é algo que, bem feito, pode trazer muita variedade na diversão que aquela experiência pode te trazer. Se eu puder listar uma franquia que faz isso muito bem é WarioWare, com seus microjogos frenéticos em sequência — uma fórmula que poucos tentaram seguir e dar suas próprias pitadas de tempero. Em SUPER 56, o tempero, na verdade, é uma dose ainda maior de esquisitice e loucura.
Em uma inesperada proposta, você começa SUPER 56 como participante de um programa de intercâmbio cultural… com o inferno. Entre tudo que você pode imaginar de um lugar nada amigável, seus colegas de quarto (uma cabeça bizarra de demônio e um zumbi parceiro) te mostram a grande relíquia que conseguiram: uma cópia do proibido jogo SUPER 56. Aparentemente, ele era tão caótico que foi proibido em todas as partes do inferno. Mas quando o vizinho de porta irritante de vocês desafia para quem vai se tornar um mestre do jogo primeiro, você vai precisar enfrentar todos os 56 minigames presentes no cartucho proibido.
Essa trama bizarra é apresentada em pequenos diálogos conforme você vai avançando na história, acompanhando o quão escroto o vizinho pode ser e como esse “inferno” não é tão diferente de um monte de jovem sendo chato na Terra. Outra coisa importante dela é dar o tom de toda a sua experiência em SUPER 56, que mistura referências e propostas de todos os lugares, sem se realmente preocupar se elas fazem sentido juntas. É praticamente o cuzcuz paulista das coletâneas de minigame, com a diferença é que, no jogo, funciona muito bem.
E olha que os ingredientes dessa receita interativa são ainda mais bizarros que os do cuzcuz paulista. Como o próprio nome já indica, SUPER 56 tem 56 minigames completamente diferentes entre si, com propostas e formas de jogar bem diferentes. Enquanto alguns duram de 20 a 30 segundos e pedem para que você faça ações rápidas (como acertar flechas em maçãs ou pescar peixes que estão passando), outros chegam a demorar quase 1 minuto e meio com ações bem mais complexas — incluindo paródias de jogos famosos, como apresentar inconsistências na fala de uma testemunha a la Ace Attorney, ou ainda uma fase especial de Sonic seguido de uma paródia de Doom.
A única coisa que realmente une todos os minigames é o esquema de controle: apenas um botão. Na verdade, o jogo inteiro, incluindo todos os menus, podem ser navegados apenas com um botão. Enquanto, em alguns deles, isso facilita a entender as possibilidades de interação, os mais complexos sofrem com essa limitação, frustrando mais do que ajudando. Andar nos menus só apertando e segurando A também é um pequeno pesadelo, sinceramente. Usar o direcional (ou pelo menos mais um botão) já seria o suficiente pra amenizar as partes ruins sem perder a simplicidade.
Mesmo com tanta variedade, a estrutura de SUPER 56 acaba tornando a experiência mais repetitiva do que deveria ser. Ao invés de conjuntos de fases sendo liberados aos poucos, você tem “acesso” a todos os 56 minigames de uma vez, quase sempre em ordem aleatória. Depois de algumas poucas runs, você já experimentou todos eles e tudo que tem a fazer agora é rejogá-los para avançar a história ou ganhar conquistas. Mesmo os desafios online (e as mil opções de personalização do seu perfil) não foram suficientes para manter meu interesse por tantas horas quanto ele queria.
Eu sempre gosto de ver jogos cada vez mais experimentais e SUPER 56 é, definitivamente, bem corajoso nos seus experimentos. É engraçado demais pensar que o visual é uma grande salada de estilos, as mecânicas vão de 0 a 100 em poucos segundos, mas a única consistência de todo o título é usar apenas um botão. É uma proposta divertida e alguns minigames são realmente muito legais, mas outros acabam sendo só frustrantes, seja pelo conceito ou pelo esquema de controles.
Uma pena que a estrutura focada em acumular pontos e repetir os mesmos jogos acabe cansando mais rápido do que ele merecia, principalmente com temas tão malucos e estranhos. Aparentemente, há mais caos entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia…
SUPER 56 está disponível para PC (via Steam).
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelo time de desenvolvimento para a produção deste texto.