Na minha humilde opinião, não tem nenhuma história que não fique melhor com uma boa música, principalmente se os personagens começarem a cantar do nada e um instrumental entrar sem contexto. Existe uma magia em musicais que só quem gosta sabe apreciar e pessoas que compartilham esse sentimento comigo devem ter ficado muito animados com o anúncio de Stray Gods: The Roleplaying Musical. Afinal, ter um musical interativo com um elenco de peso parece realmente um sonho (que talvez fosse bom demais para ser verdade).
O jogo conta a história de Grace, uma jovem vocalista nos tempos atuais que, de uma pra outra, recebe os poderes de uma Musa grega. Agora, ela também é imortal e poderosa como os demais Ídolos, a forma como o panteão grego se auto-refere depois que passaram a viver no nosso mundo. Sem entender o que está acontecendo, ela é levada aos líderes dos Ídolos para se retratar: eles acreditam que Grace matou a Musa Calíope para ganhar seus poderes e nossa protagonista tem sete dias para investigar o que aconteceu e provar sua inocência.
A história de Stray Gods é bem linear, independente desse contexto de investigação, com a sua maior força nos personagens que apresenta. Além de Grace e sua roommate Freddie, somos apresentados em “novas” versões de figuras mitológicas gregas, como um inseguro Apolo e uma forte e destemida Perséfone. Muitos deles tem suas próprias questões a serem resolvidas em paralelo à trama principal e é bem interessante ver como elas se desenrolam, principalmente em comparação ao final do jogo, que consegue ser muito apressado e anti-climático.
Mas além de uma boa trama, Stray Gods promete ser um “roleplaying musical” e é nessa promessa que ele demonstra suas maiores falhas. Começando pela parte de roleplaying, o jogo sempre prometeu que suas decisões no jogo trariam grandes impactos para a narrativa, o que, simplesmente, não acontece. Os poucos eventos que mudam conforme as decisões são qual Ídolo vai te acompanhar mais durante o jogo e o destino de alguns outros personagens, mas no grande esquema da história, nada realmente vai mudar. Até a mecânica de escolher a personalidade de Grace não faz nada além de liberar diferentes linhas de diálogo.
É incrível quando jogos aproveitam a sua interatividade para contar histórias de maneiras que outros meios não possibilitariam, mesmo com uma trama linear — What Remains of Edith Finch, por exemplo, reforça seus temas por meio das mecânicas de forma bem impactante. Aqui, suas ações e decisões não tem praticamente algum impacto além de mostrar uma cena nova e voltar pra linha principal da história. Eu passei as 8 horas de Stray Gods imaginando como eu gostaria que ele fosse apenas uma série e não me fazer apertar botões só pra liberar as próximas cenas.
Bom, e a parte musical? Ela definitivamente está presente no jogo, graças aos novos poderes de Grace em inspirar as pessoas a cantarem o que estão em seu coração. Agora, eu lembro de alguma música? Não. Até instrumentalmente, várias delas são muito parecidas entre si e 10 minutos após terminar o jogo, não dava mais pra distinguir quase nenhuma. Os dubladores são bons e cantam bem, mas é complicado ter canções tão medianas para um jogo cuja proposta é exatamente exaltar o canto como parte de sua história.
Trazer o panteão grego para os dias atuais para contar uma história sobre imortalidade, dons e como lidar com eles: Stray Gods faz isso bem ao ponto de carregar toda a experiência falha que as outras partes do jogo tentam trazer. Para um “roleplaying musical”, falta impacto, tanto das ações do jogador, quanto das canções que embalam sua narrativa. Ele até pode ser um espetáculo que valha a pena ser assistido, mas não faz bem o seu papel para convidar os jogadores para o seu elenco principal e nem pra cantar junto.
Stray Gods: The Roleplaying Musical está disponível para PC na Steam, para PlayStation 4 e PlayStation 5, para Xbox One e Xbox Series e no Nintendo Switch.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.