O sexto episódio da quinta e última temporada de Stranger Things, intitulado “A fuga de Camazotz”, marca um ponto de virada decisivo na mitologia da série. Lançado pela Netflix em 25 de dezembro, o capítulo abandona momentaneamente a lógica de ação constante para aprofundar conceitos, traumas e revelações que redefinem o Mundo Invertido e o próprio vilão Vecna. O resultado é um episódio mais contemplativo, mas fundamental para preparar o terreno do desfecho. Confira a crítica e resumo do que rolou no episódio 6:
Recapitulação do episódio 6 da temporada 5 de Stranger Things
O Mundo Invertido não é o que imaginávamos
A principal revelação do episódio vem pelas mãos de Dustin. Após o colapso causado pelo disparo de Nancy no orbe de energia no Laboratório de Hawkins, o grupo descobre que o Mundo Invertido não é uma dimensão paralela completa, mas sim um buraco de minhoca que conecta o mundo real a outra realidade ainda mais distante: a chamada Dimensão X.
Segundo anotações de Brenner encontradas no laboratório, a estrutura que sustenta o Mundo Invertido depende de matéria exótica, uma substância instável que mantém esse “atalho” espacial aberto. Qualquer dano significativo a essa matéria ameaça colapsar não apenas o buraco de minhoca, mas também arrastar Hawkins junto com ele. A série, assim, desloca o conflito do campo sobrenatural para uma fronteira entre ciência extrema e horror cósmico, algo que vinha sendo sugerido desde as aulas do Sr. Clarke na primeira temporada.
Essa descoberta também reforça o simbolismo do dia 6 de novembro, data do desaparecimento de Will em 1983. Tudo indica que Vecna pretende usar essa coincidência temporal para fundir o mundo real com a Dimensão X, completando um ciclo iniciado no primeiro episódio da série.
O colapso no laboratório e o drama de Nancy e Jonathan
Enquanto Eleven consegue proteger Hopper e Kali da implosão energética, Nancy e Jonathan ficam presos no interior do laboratório. A sequência aposta menos na ação e mais na carga emocional. Diante da possibilidade real de morte, os dois finalmente verbalizam frustrações, ressentimentos e a percepção de que insistiram em um relacionamento que já não fazia sentido.
O momento mais forte surge quando Nancy descobre que Jonathan planejava pedi-la em casamento. A revelação não funciona como reconciliação romântica, mas como fechamento emocional. Curiosamente, é exatamente nesse instante que a instabilidade da matéria exótica cessa, dando ao casal uma chance inesperada de sobreviver — um recurso narrativo que associa resolução emocional à sobrevivência física.
Will, Vecna e a conexão que cobra seu preço
Após tentar controlar Vecna no episódio anterior, Will permanece inconsciente, preso novamente à mente do vilão. O episódio deixa claro que a conexão entre os dois é assimétrica: Will não possui poderes próprios, mas canaliza fragmentos da força de Vecna. Isso torna qualquer tentativa de confronto direto extremamente perigosa.
Vecna se aproveita dessa ligação para torturar Will psicologicamente, revelando que ele teve participação inconsciente na criação dos túneis subterrâneos sob Hawkins. Mais grave ainda, o vilão usa a mente de Will para localizar Max no mundo real, colocando-a novamente em risco.
A situação reforça a ideia de que Will sempre esteve no centro da narrativa, não apenas como vítima, mas como peça estrutural do plano de Vecna.

Holly e Max exploram o trauma de Henry Creel
Presas no Covil Mental — apelidado de Camazotz —, Holly e Max avançam além da caverna onde Vecna não consegue entrar. A jornada das duas leva à lembrança mais reprimida de Henry Creel, conectando diretamente a série à peça Stranger Things: The First Shadow.
Elas testemunham o momento em que um jovem Henry mata um cientista ligado aos experimentos secretos de Brenner. A cena revela que o cientista havia roubado uma tecnologia capaz de acessar diretamente a Dimensão X — o mesmo mundo que, anos antes, havia deformado o pai de Brenner. Quando Henry entra em contato com essa tecnologia, ele se torna vulnerável à influência do Devorador de Mentes, que passa a usá-lo como receptáculo, da mesma forma que Vecna faz com Will.
A revelação reposiciona Vecna não como a origem do mal, mas como parte de algo maior, uma engrenagem em um ciclo de abusos científicos e forças interdimensionais.
Max retorna ao mundo real — e Holly fica para trás
A trilha emocional do episódio culmina na tentativa de fuga de Max e Holly. Max encontra sua saída ao ouvir “Running Up That Hill”, tocada por Lucas no hospital, reforçando a importância das âncoras emocionais. Enquanto isso, Demodogs atacam o hospital, em uma sequência que devolve urgência à narrativa.
Holly, por sua vez, só consegue abrir seu portal após reconhecer sua própria coragem. O episódio constrói esse momento com cuidado, permitindo que a personagem compreenda que, mesmo com medo, foi ela quem guiou a fuga e enfrentou Vecna sem ajuda. Ainda assim, sua libertação é incompleta: sua mente retorna ao corpo, mas ela permanece presa no Mundo Invertido, junto das outras crianças.

A despedida entre Max e Holly não encerra a trama, apenas a suspende. A promessa de resgate estabelece o motor emocional para os episódios finais.
Um episódio de revelações, não de respostas
“A fuga de Camazotz” funciona menos como espetáculo e mais como alicerce narrativo. Ao redefinir o Mundo Invertido, aprofundar o passado de Henry e recolocar Will no centro do conflito, o episódio prepara o terreno para um desfecho que promete ser mais trágico do que triunfal. Stranger Things deixa claro que salvar Hawkins pode significar perder muito mais do que seus personagens estão prontos para admitir.