Uma semana após a estreia do grandioso e polêmico Star Wars: Os Últimos Jedi, alguns mistérios e simbologias ainda pairam sobre o filme de Rian Johnson.
O filme já inicia com um tapa na cara e uma das melhores (se não a melhor) batalhas espaciais da saga. Já fica claro desde o Despertar da Força que Star Wars e John Williams foram feitos para serem apreciados em uma bela tela IMAX, pois o cinema traz o épico da franquia ao seu auge. E como esse filme é épico! A grande genialidade dessa cena é colocar Poe como um grande herói mas também como alguém que precisa aprender a ser um líder. Suas decisões acabam por destruir uma grande nave da Primeira Ordem mas com grandes perdas para a Resistência. Essa cena também consegue trazer o peso do nome “Wars” do título, em poucos momentos da franquia eu vi uma cena com um peso de guerra tão grande, aqueles soldados morrendo por uma causa e toda a tensão na cena das bombas. Desde ali Rian Johnson já nos mostra o quão épico o filme vai ser.
De forma surpreendente essa expectativa é quebrada e o filme nos coloca para baixo em alguns momentos, seja com a Leia dando um sermão pelas decisões de Poe como também Luke finalmente recebendo o sabre e o ignorando. Aqui o filme já entrega sua principal mensagem: vamos esquecer o romantismo do passado e encarar o futuro. O novo Star Wars não tem espaço mais para heróis clássicos e regras conservadoras sobre os Jedi. Esse novo filme não se acovarda e copia os antigos, ele busca algo diferente. Talvez por isso que tem tanta gente puta por aí.
O resto do filme também traz um novo clima para Star Wars, aqui a gente sente que a Resistência está levando um pau absurdo da Primeira Ordem e você sente esse baque. O longa, apesar de muitas piadinhas fora de hora, é um dos mais sombrios da franquia. Luke Skywalker não é mais aquele herói inquebrável, ele é um velho quebrado e amargurado, algo que foi visto de forma parecida no filme Logan. Os fãs devem ter se sentido como Kylo Ren, traídos pelo seu herói e mentor. Até mesmo a Rey, uma personagem cheia de vida no primeiro filme, aqui tem um semblante mais sério e triste por ter perdido sua figura paterna nas mãos de Kylo.
O filme possui um probleminha de ritmo ali no meio principalmente por trazer diversos plots a seres explorados. Existem diversas subtramas que funcionam principalmente para desenvolver esses personagens. Quase todos eles estão aprendendo alguma coisa. Rey precisa entender que ela não necessita de uma figura paterna, Luke precisa se redimir dos seus erros, Kylo Ren possui uma ótima luta interna o tornando um vilão bem interessante, Poe precisa aprender a liderar e Finn se desligar completamente da Primeira Ordem matando Phasma e fechando o ciclo. É óbvio que o filme foca na luta entre Luke e Kylo, mas todos esses arcos funcionam.
Ao mesmo tempo que o longa nos pede para seguir em frente e deixar o passado para trás, ele consegue homenagear de formas lindas a trilogia clássica. A aparição de Yoda sendo mais uma vez a voz da sabedoria para Luke é emocionante e entrega a mensagem do filme de forma bem clara: vamos deixar esse conservadorismo para trás e abraçar o novo, essa nova geração de Reys e Finns que vem por aí é que vai moldar o futuro. O nosso antigo herói Luke está cansado e percebe que não existe mais lugar para ele nesse mundo, o que fica é o legado da Força que há dentro de cada um.
Toda essa boa direção e roteiro talvez não funcionasse sem boas atuações. Os destaques aqui ficam para os dois protagonistas do filme: Luke e Kylo. Mark Hammil traz sua melhor atuação do personagem, mudando de opinião durante o filme e percebendo que, mesmo no fim de sua vida, ele ainda tem muito o que aprender. Já Adam Driver traz um Kylo Ren mais desenvolvido, um vilão que parecia só uma criança mimada no primeiro filme agora tem propósito e uma luta interna interessantíssima. Suas atuações podem ser diferenciadas até na forma como lutam, Luke é um monge zen e Kylo um jovem em frenesi.
Além de todo o subtexto, o longa de Rian Johnson consegue ser o mais lindo da franquia. A fotografia de Steve Yedlin em conjunto com a direção e a trilha sonora traz cenas maravilhosas no espaço ou em Terra. É difícil escolher um momento favorito mas cada cena consegue trazer algo de épico ou emocionante. A batalha final referencia o Império Contra ataca com os At-Ats em um cenário branco, mas agora temos neve e cristais vermelhos, algo que plasticamente fica lindo. A cena de luta de Rey e Kylo contra os soldados naquele cenário vermelho, nossa senhora!
Algo que é super importante de frisar é a preocupação do filme na representatividade. Existem mulheres e negros em todos os níveis do filme, seja como protagonistas, coadjuvantes e até vários figurantes. É claro que a Disney entende que isso é uma estratégia de mercado mas não deixa de ser importante ver isso nos cinema. Para aqueles que acham que isso é propaganda esquerdista ou algo do tipo, é um importante frisar que Star Wars sempre foi uma história de lutar contra o conservadorismo pela revolução, é uma luta dos oprimidos contra os opressores, então recomendo assistir os filmes novamente.
Fora todas essas cenas, Star Wars ainda é um filme de produtor e temos alguns probleminhas que nos tiram da trama. A inserção de personagens chineses para apelar ao mercado da China e algumas cenas que poderiam ter um esmero melhor. Toda a sequência do Cassino é esquisita e desnecessária, podendo ter sido tirada e salvado uns 20 minutos do filme. E nem preciso começar a falar dos pokémons inseridos para vender bonequinhos…
Star Wars: Os Últimos Jedi é um filme corajoso. Sua coragem vem de chamar um diretor de filmes pequenos e autorais para comandar uma das maiores franquias do cinema e reinventar a roda. Corajoso por não jogar pelo empate como O Despertar da Força fez e recriar plots antigos. Corajoso por mostrar as perdas e sofrimento de uma guerra, por mostrar que muitas vezes não existem heróis e vilões, somente pontos de vista. O longa não só inova, mas inova com uma qualidade técnica impecável e épica, emocionando fãs antigos e novos da franquia. E se você tenta se apegar a nostalgias e tem medo de abraçar o novo, talvez esse filme não seja para você. O longa aposta no novo e poderia ter fracassado, mas ele mesmo me ensinou que o fracasso é o melhor mestre.