A Netflix estreia a série italiana Sra. Playmen (Mrs Playmen), um drama histórico ambientado na Roma dos anos 1970 que mistura erotismo, política e libertação feminina. Dirigida por Riccardo Donna e protagonizada por Carolina Crescentini, a produção de sete episódios revisita a trajetória da editora Adelina Tattilo, considerada uma das figuras mais influentes da revolução sexual italiana.
Uma mulher à frente do seu tempo
A trama acompanha Adelina Tattilo (Crescentini), inspirada na criadora da verdadeira revista Playmen, publicação que desafiou as normas morais e religiosas da época ao colocar o desejo feminino no centro do debate. Casada com Saro Balsamo (Francesco Colella), Adelina vê seu mundo ruir quando o marido desaparece deixando dívidas e um império editorial à beira da falência.
Para evitar o colapso, ela assume o controle da revista e redefine sua linha editorial, trocando o olhar masculino sobre o erotismo por uma perspectiva feminina. O gesto transforma Playmen em um símbolo da emancipação das mulheres, mas também atrai perseguições do Estado, da Igreja e de movimentos conservadores.
Erotismo, censura e contradições da Itália dos anos 70
A série recria a atmosfera de um país em ebulição social. O divórcio ainda era ilegal, o aborto era proibido e leis arcaicas permitiam que estupradores escapassem de punições casando-se com as vítimas. Nesse contexto, a revista Playmen surge como um manifesto visual contra a repressão.
Donna usa a redação da publicação — situada simbolicamente diante da Basílica de São Pedro — como campo de batalha entre tradição e modernidade. Enquanto feministas acusam a revista de objetificar o corpo feminino, Adelina insiste que está dando voz a uma geração de mulheres silenciadas. Essa tensão, constantemente retomada nos episódios, reflete as contradições de uma sociedade dividida entre o medo e a curiosidade em relação à liberdade sexual.
Personagens em conflito: o elenco de Sra. Playmen
Entre as tramas paralelas, destaca-se a história de Elsa (Francesca Colucci), uma jovem de origem humilde que se torna símbolo da exploração e da vulnerabilidade feminina. Após ter fotos íntimas publicadas sem consentimento, ela é rejeitada pela sociedade e violentada, o que leva Adelina a acolhê-la na revista. A relação entre as duas personagens, marcada por desconfiança e solidariedade, ilustra o embate entre culpa, empoderamento e sobrevivência.
Outros personagens ampliam o panorama social: Luigi Poggi (Giuseppe Maggio), o fotógrafo que manipula Elsa; Chartroux (Filippo Nigro), diretor criativo da revista; e a policial Andrea De Cesari, encarregada de encontrar motivos legais para fechar a publicação. Cada um representa uma faceta da Itália da época — o oportunismo, o moralismo e a repressão institucional.

Estilo e ambientação
A produção reconstrói com precisão o cenário romano dos anos 1970, explorando locais icônicos como o Coliseu, o Rio Tibre e o Piper Club, símbolo da vida noturna. A trilha sonora combina sucessos italianos de Patty Pravo e Nada com canções internacionais como “Venus”, do Shocking Blue, e até versões modernas de hits contemporâneos, como “Love on the Brain”, de Rihanna.
Esses elementos criam uma ponte entre passado e presente, ressaltando como os temas abordados — censura, desejo, liberdade e poder — continuam atuais. A fotografia quente e o figurino reproduzem o glamour e as cores vibrantes da década, em contraste com o peso moral que domina o contexto político e religioso.
Uma narrativa sobre poder e resistência
Cada episódio de Sra. Playmen é estruturado em torno de uma nova edição da revista, funcionando como espelho dos debates sociais da Itália. A série trata de temas como o direito ao divórcio, a autonomia sobre o corpo e o papel da mulher na mídia, sempre a partir do olhar de Adelina, que tenta equilibrar idealismo e sobrevivência financeira.
Mais do que uma história sobre erotismo, a minissérie é um retrato da luta por liberdade em um país controlado por convenções morais e pela influência do Vaticano. A personagem principal simboliza o esforço de uma geração que, ao desafiar o status quo, abriu caminho para mudanças profundas na cultura e na comunicação.

Crítica: por que assistir a Sra. Playmen na Netflix?
Sra. Playmen se destaca por oferecer uma visão crítica sobre o impacto da imprensa erótica e sua relação com o feminismo, sem recorrer ao sensacionalismo. A série combina drama pessoal, reconstrução histórica e discussões sociais de forma acessível e envolvente.
Com boas atuações e ambientação detalhada, o título se insere na tradição das produções europeias da Netflix que revisitam momentos decisivos da história recente. Ao revisitar a trajetória de Adelina Tattilo, Sra. Playmen convida o público a refletir sobre liberdade, moral e o preço de romper padrões — temas que continuam a ecoar meio século depois.