É curioso pensar como, nos últimos anos, vários dos ícones dos jogos de plataforma 2D decidiram se reinventar com novos títulos que tentavam modernizar suas mecânicas e expandir as possibilidades. Mario e Kirby fizeram isso há mais de 10 anos, com propostas que, na época, impressionaram, mas hoje se mostram meio datadas. O ouriço da SEGA chegou só agora ao time com Sonic Superstars, a nova aventura que promete ser uma “releitura da jogabilidade clássica” e está disponível para computadores e consoles. Mas o quanto ainda dá pra expandir o que foi feito no Mega Drive há tantas décadas?
Desde o começo de sua divulgação, Sonic Superstars apostou em mostrar o que, provavelmente, é a maior mudança ao estilo clássico: multiplayer local com até quatro jogadores, simultaneamente, em todas as fases da campanha. A minha grande dúvida, até então, era tentar imaginar como adaptar o estilo rápido e caótico da plataforma de Sonic para acompanhar QUATRO personagens correndo pela tela.
Até seus primos nintendistas, com jogos bem mais lentos e metódicos, sofreram grandes mudanças de level design para acomodar tanta gente. Os trailers, entretanto, mostravam fases bem tradicionais e labirínticas, como sempre foram. Na verdade, os poucos momentos com mais de um personagem eram nos chefes ou em cenas curtas. Mas agora, com o jogo em mãos, você me pergunta: como isso funciona?
Simples: não funciona. Tentar jogar até com duas pessoas é um grande pesadelo, na verdade. Ao invés de trazer fases adaptadas para essa nova proposta, ou ainda usar câmeras diferentes para permitir que os jogadores explorem o cenário em velocidade, Sonic Superstars simplesmente move continuamente a tela para o personagem que estiver mais à frente, teletransportando todos os outros a cada 3 segundos para tentar acompanhar.
A não ser que todos queiram ir ao mesmo lugar, e consigam acelerar na mesma proporção, o que era pra ser um momento divertido entre amigos vira uma grande salada de boneco pulando e morrendo sem nenhum tipo de nexo. Mas tudo bem, vamos considerar então que Sonic Superstars é pra ser jogado sozinho. Pelo menos, a variedade de personagens permite estilos diferentes de jogo, seja com o voo de Tails, os punhos de Knuckles ou a marreta da Amy. Por mais que só sirvam para alcançar novos caminhos nos estágios é legal testar e encontrar como você prefere jogar.
Dito isso, outra grande mudança cargo chefe de Sonic Superstars são os novos poderes das Esmeraldas Chaos. Antes, apenas o colecionável primário que engatilhava o especial Super Sonic, agora cada uma delas dá uma habilidade nova aos personagens, que pode ser usada uma vez a cada checkpoint — como clonar seu boneco para atacar inimigos, parar o tempo para reagir a um ataque ou mostrar plataformas extras em lugares complicados.
Enquanto são habilidades legais de usar, nenhuma delas realmente é obrigatória e não muda muito o jogo, além de deixar um ou outro chefe mais fácil. Pelo menos, agora elas são mais fáceis de serem encontradas, desde que tenha paciência para passar pelos novos Estágios Especiais: você vai ver os personagens se pendurarem em bolas de energia até conseguirem chegar na pedra preciosa. Chegou um ponto que quase tava evitando esses estágios só pra não precisar passar por isso de novo.
Beleza, mas será que Sonic Superstars consegue, pelo menos, manter o que já era bom em Sonic? Em boa parte, até que sim. As fases labirínticas e cheias de caminhos estão aqui, com inimigos prontos para arrancar seus anéis sempre que possível. O pouco de personalidade que o jogo tem, além da incrível nova personagem, Trip, pode ser visto em algumas das zonas — as densas florestas de Speed Jungle e os templos dourados de Golden Capital me chamaram bastante a atenção.
É uma pena que o level design desande completamente da segunda metade pra frente, reutilizando mecânicas que não encaixam com as temáticas das zonas e criando obstáculos que forçam Sonic a parar o tempo todo para esperar uma passagem ser aberta. Na verdade, essa espera é o sentimento básico de quase todos os chefes do jogo: perdi a conta de quanto tempo eu tive que ficar parado até que o boss mostrasse seu ponto fraco. Funciona muito bem com o inventário meticuloso de Legend of Zelda, mas não com a velocidade e a rapidez do ouriço.
Nem a trilha sonora, a única instituição inabalável da série, conseguiu sair ilesa de Sonic Superstars. Com uma desarmonia de arranjos e propostas é fácil perceber que várias pessoas criaram as músicas aqui (e que não tiveram alguém para unir tudo depois). As eletrizantes propostas de Tee Lopes (compositor de Sonic Mania), por exemplo, só aumentam o contraste com outras canções mais “nostálgicas”, que usam loops repetitivos da época do Mega e que ficam ainda mais datadas por comparação.
Quando ele está em seu máximo de qualidade, tudo que Sonic Superstars consegue fazer é ser um jogo mediano do Sonic. No resto do tempo, ele é uma mistura estranha de uma nostalgia requentada (e com bem menos carisma que Sonic Mania) e ideias que não foram bem executadas. Na verdade, esse multiplayer não funciona nem em conceito, quem dirá na execução. Quem acompanha o mercado de jogos de plataforma 2D sabe o quão difícil é traduzir a magia dos anos de 1990 para os dias atuais, mas só fazer “mais do mesmo” cansa — e o Sonic teve pelo menos uma década para ver os concorrentes passando pelos mesmos problemas. Ainda falta inovação e coragem para ele voltar a ser o “superstar” que já foi um dia.
Sonic Superstars está disponível para PC (via Steam), para PlayStation 4 e PlayStation 5, para Xbox One e Xbox Series e no Nintendo Switch.
*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelo time de desenvolvimento para a produção deste texto.