Um prêmio para quem não abandonou Sense8
O último episódio de Sense8 pode ser qualificado de diversas maneiras. Aqueles que por pouco não pararam de assistir mas que perseveraram devem ter ficados satisfeitos com o final, enquanto os que fazem parte da nova onda de veneração à série devem estar com gostinho de quero mais em seu sistema límbico. Já quem tentou e não gostou, provavelmente não passou do sexto episódio (abraço, Charles!).
Com Riley (Tuppence Middleton) nas mãos de Sussurros (Terrence Mann), os sensate precisarão usar todas as habilidades em conjunto para resgatá-la e garantir a sobrevivência dos 8 ao mesmo tempo.
A cena que mostra o fatídico acidente de Riley é pesada, mas nada mais forte do que já vimos em Sense8: Andy e Lana Wachowski economizam em certas violências (como a tortura no saco plástico anteriormente) mas não poupam o telespectador da naturalidade chocante de um parto. Nem da dor de uma mãe. A islandesa acaba se tornando dessa forma a personagem com mais “sofrência” da série, e toda sua tragédia é alimentada por cenários gélidos que passam a sensação de impotência e depressão. Por isso que o episódio 12, intitulado “Não Vou Abandoná-la”, trata do resgate de Riley não apenas física mas também psicologicamente.
“É por isso que você precisa se casar com Rajan”
Wolfgang (Max Riemelt) finalmente se acerta com seu tio, e nesse momento ser da mesma família é apenas um detalhe irrelevante na árvore genealógica. Além de revelar quem de fato deu um fim no senhor seu pai, o alemão contará com a bem vinda ajuda de Kala (Tina Desae) para concretizar sua vingança/acerto de contas. Mas tudo tem um preço e para a indiana será escolher entre um selvagem ou um animal dócil.
“Não vou abandoná-la” possui diversas peculiaridades, como a câmera posicionada dentro dos armários, a cena do elevador quando Will (Brian J. Smith) faz contato visual com Sussurros, além dos já citados cenários gélidos e montanhosos da Islândia. A aposta maior, porém, é no resgate de Riley de dentro dos centros de pesquisa da OPB. É lá que a mágica acontece e também é lá que Jonas está detido. O personagem de Naveem Andrews foi um tanto decepcionante ao longo de 12 episódios, herança de Lost: acrescenta interrogações para não devolver muita coisa. O mesmo vale para Angelica (Daryl Hannah), que só fez acontecer mesmo no primeiro episódio. É uma das características negativas de Sense8, personagens somem e outros aparecem de graça.
O resgate conta com mais uma super conexão entre os Sense8, onde cada um deles usa suas habilidades de acordo com a necessidade. O suporte de infiltração vem de Nomi, o conhecimento farmacêutico de Kala, os automobilísticos de Capheus… até Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre) participa, mas não sem forçar a barra como sempre. O condutor da situação é Will, que apesar de resolver o problema acaba trazendo a grande dúvida para a segunda temporada, já que fez contato visual com Sussuros. Afinal de contas, não vão poder mantê-lo sedado a próxima temporada inteira. Ou poderão?
A série chegou com um formato um tanto arriscado, já que é sempre perigoso trabalhar com tramas de mistério. Ainda mais lidando com quase uma dúzia de subtramas paralelas que se cruzam de alguma maneira, então fica aqui o grande paradoxo da série: seus personagens tiveram um desenvolvimento muito conservador (e arrastado) afim de se preservar essa estrutura maluca de conexões, fornecendo figuras muito estereotipadas e dramas forçados (às vezes por culpa de determinado ator). As referências à cultura pop ficaram legais e até funcionais em algumas passagens (como Van Damme e Conan) e ajudam a dosar o humor geralmente sério do programa.
Sense8 é a redenção dos Wachowski? Vai de cada um, e pra mim não é. Mas quem disse que os criadores de Matrix precisam se redimir de alguma coisa?
A série está disponível para assinantes Netflix. Acompanha a análise dos episódios anteriores aqui.