Acho que, de todas as franquias da cultura pop, “O Senhor dos Anéis” é a minha favorita. Desde que assisti ao primeiro filme e mergulhei nos livros, o universo criado por J. R. R. Tolkien sempre me fascinou, despertando minha curiosidade por aquela rica fantasia medieval. Infelizmente, desde “O Retorno do Rei”, nenhum lançamento pareceu estar à altura da trilogia original. Contudo, O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim chega para quebrar essa maldição com uma animação japonesa inédita que se baseia no material de Tolkien para criar algo novo.
Dirigido por Kenji Kamiyama (Blade Runner: Black Lotus), o anime se passa 200 anos antes de Bilbo encontrar o Um Anel, narrando a história de Hera (com a voz de Gaia Wise), filha do rei Helm de Rohan (Brian Cox), e sua luta contra Wulf (Luke Pasqualino), um antigo vassalo em busca de vingança pela morte de seu pai.
Uma das características mais interessantes do longa é sua capacidade de apresentar uma história inédita, que ao mesmo tempo bebe profundamente da fonte de Tolkien e enriquece a mitologia desse universo. O filme começa com uma narrativa mais realista, lembrando o tom de “Game of Thrones”, mas, aos poucos, introduz de forma sutil elementos fantásticos característicos das obras de Tolkien. Em vários momentos, a trama remete a contos que poderiam ser encontrados em “O Silmarillion” ou nos “Contos Inacabados”. No entanto, o longa perde parte de seu brilho ao reproduzir de forma excessivamente similar eventos de “As Duas Torres”, ainda que com sua própria abordagem.
Um dos grandes pontos fortes do roteiro é o desenvolvimento dos personagens, algo que nem sempre se destaca em adaptações de “O Senhor dos Anéis”. Embora a protagonista Hera siga um arquétipo clássico de jornada do herói, ela protagoniza momentos épicos que contribuem para o enriquecimento da história. No entanto, são os coadjuvantes que realmente brilham. O rei Helm é inicialmente retratado como um líder austero, mas honrado, uma figura correta, apesar de opiniões controversas. Conforme a trama avança, seu arco se desenvolve de maneira envolvente, levando-o a protagonizar algumas das cenas mais memoráveis do filme. O vilão Wulf, por sua vez, é bem construído, com motivações justificáveis para suas ações e uma personalidade complexa que, em momentos pontuais, revela vulnerabilidade.
Apesar de seus méritos, a decisão de utilizar animação japonesa pode afastar parte do público. Embora essa escolha seja curiosa e interessante como meio de explorar uma história do universo de “O Senhor dos Anéis”, o estilo visual não me agradou. O principal problema está na falta de uma direção de arte mais criativa. Os designs de personagens, monstros e cenários, em minha opinião, acabaram parecendo genéricos. Por outro lado, o filme compensa em sua trilha sonora, que, mesmo recorrendo a temas consagrados da trilogia clássica de forma quase excessiva, consegue evocar nostalgia e intensificar os momentos épicos e dramáticos. Um destaque especial é a canção original “The Rider“, interpretada por Paris Paloma. Embora remeta ao estilo das músicas dos filmes de Peter Jackson, o que pode ser considerado previsível, admito que, como fã, isso me conquistou. Assisti à versão dublada em português e fiquei muito satisfeito com a qualidade das vozes brasileiras.
É perceptível que “O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim” tem um roteiro bem elaborado, trazendo uma história nova com alguns easter eggs e expandido o mundo de Tolkien respeitando o material original. Apesar do estilo artístico que pouco me agrada, o longa animado compensa com personagens interessantes, uma história épica e uma ótima trilha sonora. Não tenho dúvidas que este seja o melhor produto audiovisual da franquia desde “O Retorno do Rei”. Espero que a Warner continue a expandir o legado de Tolkien, explorando novas e ousadas formas de contar suas histórias.