Sem Ar é um filme alemão, remake de Além das Profundezas (2020), cuja história gira em torno das irmãs Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause), que decidem ir para um lugar ermo praticar mergulho juntas, atrás de uma caverna submarina (ou assim dá a entender). Porém, o que elas não sabiam era que no local havia o risco de deslizamento de rochas, e obviamente um acidente acontece, deixando May presa debaixo de uma pedra a uns 30 metros – se entendi direito -, com o seu ar acabando. Drew agora tem que correr contra o tempo para salvar a irmã.
Bom, o que deveria ser um filme de suspense angustiante de resgate, “Sem Ar” acaba se tornando uma narrativa insípida, em que somos jogados de uma vez dentro do drama delas, sem sabermos seus nomes, suas histórias e nem mesmo que são irmãs! São coisas que você vai pegando ao longo da narrativa, de forma espaçada, o que atrapalha – e muito – o nosso envolvimento com as personagens. Ao invés de termos empatia por elas, causada pelos acontecimentos horríveis que vão se seguindo, nossa imaginação nos leva mais para o pensamento “e se fosse eu ali presa?” do que para qualquer lado emocional que nos conecte à trama.
Além disso, a narrativa tenta nos dizer que May tem aí uns probleminhas relacionados à família, em específico, o pai, mas só com uns flashbacks repetidos que não querem dizer nada e temos que adivinhar se o que podemos ter entendido tá certo ou não. São apenas flashes, muito flashes mesmo, num piscar de olhos, de alguns pensamentos soltos de May, que está presa nas pedras, e coisas que eu acho que o diretor deve ter achado como sendo uma resolução inteligente para evitar diálogos ou uma história expositiva demais, só que acabou do outro lado, nos deixando no escuro absoluto, vendo Drew correndo de um lado para o outro, sem a irmã a guiando para o que fazer sobre tudo a cada minuto, com um monte de decisões que vão para lugar algum na trama – não culpa dela, mas sim da direção. Sim, culpa sua Maximilian Erlenwein!
Com esse monte de coisa sem importância com a qual somos soterrados, “Sem Ar” nos deixa mais sem diversão do que envolvidos na sua proposta.
May aparece com cara de quem tá prendendo um peido, se mantém com expressões de constipação ao longo do tempo, e mesmo quando sorri, parece desconfortável com o ato. Me deu a entender que a personagem dela deveria estar presa em algum tipo de depressão, ou algo do gênero, mas eu tiro isso da apatia que ela demonstra, do óbvio fingimento dela de que as coisas tão de boas quando tá obviamente desgostosa com cada segundo que gasta ali – o que é completamente mérito da atriz. Por outro lado, Drew é para ser um raio de sol meio burrinho (ou assim dá a entender), sendo que ela é bem perspicaz, de um jeito estranho, e no final das contas, depois de muito chorar esperando que a irmã – presa – lhe diga o que fazer, finalmente toma as rédeas da situação. Em resumo, uma gata mal-humorada e uma dálmata.
Além das atrizes, a “única” outra coisa realmente boa em “Sem Ar” é a direção de fotografia, que aproveita muito bem os cenários e os ângulos únicos que o mar límpido pode fornecer, além dos arredores do local, completamente livre de civilização, com sol a pino.
No fim, temos um filme bem insosso, que pode trazer um certo nervosismo a quem já tem medo do mar ao se pôr no lugar da personagem, e nos deixa por fora da história das próprias personagens, que deveria ser algo importante para a conexão do público com a trama. “Sem Ar”, na verdade, seria um “sem tempo, irmão”.