Os dois primeiros episódios do anime Sanda, intitulados “Everything’s Bright, Am I Aging?” e “Candies, Canes, Kisses, and Blades”, introduzem o público ao novo universo criado por Paru Itagaki, autora de Beastars. A série, disponível no Prime Video, é assinada pelo estúdio Science SARU — o mesmo de DanDaDan e Devilman: Crybaby — e dirigida por Tomohisa Shimoyama, com roteiro de Kimiko Ueno e trilha sonora composta por Tomoyuki Tanaka. Confira a crítica e recapitulação dos episódios 1 e 2.
Crítica e Recapitulação de Sanda
Um Japão futurista em colapso demográfico
A história se passa em um Japão de um futuro próximo, onde a taxa de natalidade despencou e as crianças passaram a ser tratadas como bens nacionais. Nesse contexto, elas vivem sob rígido controle do governo em internatos, recebendo cuidados excessivos e tendo suas liberdades limitadas. O Papai Noel, símbolo de esperança e inocência infantil, foi declarado persona non grata — uma figura considerada perigosa por inspirar sonhos em uma sociedade que já não acredita no futuro.
É nesse cenário que conhecemos Kazushige Sanda, um estudante comum que vê sua vida mudar em um nevado 25 de dezembro. Sua colega de classe, Shiori Fuyumura, quebra um selo misterioso em seu corpo, fazendo com que ele assuma a aparência e os poderes do Papai Noel sempre que veste roupas vermelhas. A partir daí, Sanda descobre que pode alternar entre suas formas ao consumir jujubas, enquanto Fuyumura revela seu verdadeiro objetivo: encontrar a amiga desaparecida Ichie Ono e relembrar o mundo sobre o verdadeiro significado do Natal.
Entre o absurdo e o simbólico
Os dois primeiros capítulos equilibram ação e construção de mundo, apresentando o tom surreal que define a obra de Paru Itagaki. A série mistura humor, crítica social e fantasia em ritmo acelerado. Há momentos em que o próprio protagonista questiona sua sanidade, dividido entre a voz interior do Papai Noel e seus pensamentos adolescentes. “Crianças são realmente o tesouro da vida”, diz Sanda em uma cena emblemática do segundo episódio, ilustrando o conflito entre o idealismo natalino e a frieza da nova ordem social.
O anime também lança perguntas que devem guiar a temporada: quem realmente sabe sobre o poder de Sanda? E por que o governo teme tanto a figura do Papai Noel? Essas questões são deixadas em aberto, reforçando o mistério central e preparando terreno para as próximas revelações.
Visual e som que constroem atmosfera
Como esperado da Science SARU, Sanda impressiona visualmente. O estúdio mantém o estilo experimental que o consagrou, utilizando ângulos de câmera inusitados, close-ups de 360° e uma paleta de cores vibrante. No episódio 2, o contraste entre o agasalho vermelho de Sanda e o terno verde do diretor Hifumi Ooshibu sintetiza a estética natalina e simboliza as forças opostas que disputam o destino das crianças.
O design sonoro também se destaca. Em vez de efeitos modernos, a equipe liderada por Keiichirō Miyoshi opta por sons de explosões antigas, evocando uma sensação de nostalgia que dialoga com a ideia de resgatar o espírito do Natal. A trilha sonora de Tomoyuki Tanaka mistura jazz, funk e batidas eletrônicas, criando um clima intenso durante as cenas de transformação e combate.
Outro ponto técnico interessante é o uso de dois dubladores diferentes para representar Sanda e o Papai Noel. A escolha reforça o dualismo do personagem e ajuda o espectador a identificar quem está no controle em cada momento.
Narrativa ágil e crítica social do anime no Prime Video
Os episódios iniciais de Sanda equilibram exposição e ação. É apresentado ao público o “Ano Tenshi 5”, quando há apenas 50 mil cidadãos com menos de 15 anos — o que representa 0,1% da população japonesa. Essa informação, dita de forma direta por Sanda, revela a dimensão do problema social e estabelece o pano de fundo político da história.
A série aborda temas como o medo do envelhecimento, a perda da inocência e a repressão institucional sobre os jovens. Ao transformar o Papai Noel em uma ameaça estatal, Paru Itagaki faz uma crítica à sociedade japonesa contemporânea e à sua relação com a produtividade e a natalidade.
Apesar do tom distópico, Sanda mantém momentos de leveza. O humor do protagonista — especialmente em seus monólogos — cria um contraste com o peso temático da trama. Em uma das primeiras cenas, Sanda reflete de forma cômica sobre o corpo das colegas de classe, lembrando que ainda é um adolescente comum em meio a um mundo disfuncional.
Vale à pena assistir ao anime Sanda, no Prime Video?
Um início promissor
Com apenas dois episódios, Sanda estabelece uma identidade própria dentro do catálogo da Science SARU. Sua estética vibrante e narrativa provocativa o diferenciam das produções de ação convencionais, enquanto o simbolismo natalino o conecta a reflexões universais sobre fé, infância e esperança.
Ao adaptar mais uma obra de Paru Itagaki, o estúdio reforça sua afinidade com histórias que exploram a fronteira entre o humano e o fantástico. Sanda começa como uma fábula sobre um Japão sem Natal, mas promete evoluir para algo maior — uma alegoria sobre o que acontece quando uma sociedade perde a capacidade de sonhar.
Com 12 episódios previstos, o anime lançado mundialmente pelo Prime Video tem potencial para se tornar uma das surpresas da temporada, unindo crítica social, experimentalismo visual e um tema incomum: o retorno do Papai Noel em um mundo que esqueceu como celebrar o Natal.