Sylvester Stallone é um sujeito pra lá de carismático, mas isso não impede que Samaritano (2022) se apresente como uma produção que não irá entregar uma experiência satisfatória ao espectador mais atento. E sim, esse texto contém spoilers do filme exclusivo do Prime Video.
Você pode achar que é implicância minha, mas o primeiro motivo para ficar de orelha em pé é quando temos uma narração introdutória para explicar as regras do que veremos ao longo do filme. Isso é muito chato: por que diabos não ir jogando as informações sobre o que aconteceu no passado ao longo do andamento natural da narrativa, uma vez que a ideia de que veremos um super-herói aposentado já foi comprada por qualquer um que se informou sobre o longa? Pra piorar, nessa historinha, já sabemos que o personagem do Sly tinha um irmão gêmeo, o que já nos faz ligar o sinal de alerta, porque o tanto de história horrível que usa tal premissa não tá escrito no gibi… ou está?
A pá de cal vem quando o roteiro cria uma armadilha pra si mesmo. Após a explicação, qualquer um já consegue adivinhar que o super-herói aposentado e sobrevivente de um incêndio no passado não é o Samaritano, mas sim o seu irmão e arqui-inimigo Nemesis. Diante disso, há dois caminhos de frustração: o do plot twist sem efeito que adivinhamos logo de cara ou a decepção por ele não acontecer.
O que deveria ser o olhar do expectador, ou seja, o garoto Sam (Javon Walton), até dá amostras de que poderia ser um representante agradável do pobre coitado ou coitada que irá dedicar seu tempo para acompanhar essa sessão, mas o resultado final é um garoto irritante que nos faz querer estar naquele universo só para sacudir seus ombros e perguntar como pode ser tão burro.
A culpa, logicamente, não é do garoto, mas do roteirista, e agora me refiro diretamente ao senhor Bragi F. Schut, que possui em seu currículo os dois filmes Escape Room e a pérola Caça às Bruxas, com Nicolas Cage. Na real, é até injusto criticar demais esse sujeito que obviamente estava a serviço da Balboa Productions. Desse modo, você pode esperar um roteiro do nível de Rambo 4 (lembra aquela cena ridícula na chuva? Aqui tem mais) e 5.
A serviço da produtora e sem necessidade, ou ambição artística alguma, está o diretor, Julius Avery, que em seu terceiro filme entrega algo esquecível. Antes de Samaritano, ele trabalhou em Operação Overlord (2018) e Sangue Jovem (2014), projetos que parecem melhores do que este de 2022 (ainda não tive a oportunidade de conferir).
E quanto a Sylvester Stallone? Bom, nosso querido Rocky Balboa tenta fazer o que sabe fazer de melhor: frases de efeito, amizades improváveis, heroísmo e cumprimento do dever cívico… mas nada disso dá certo. Seu personagem demora mais que o necessário para entender o momento de agir e, além disso, o grande potencial do filme, que é a dinâmica entre Joe (Sly) e Sam (Walton), simplesmente não funciona. A admiração do garoto não consegue ultrapassar o set de filmagens para atingir nossos corações, como acontece em filmes da franquia Rocky e Creed, ou mesmo no clássico da queda de braço Falcão: O Campeão dos Campeões (1987). Uma pena.
Eu não deveria perder meu tempo falando sobre o vilão interpretado por Pilou Asbæk, Cyrus. Trata-se de um obcecado pelo passado do vilão ou anti-herói Nemesis, enquanto ele mesmo não passa de um psicopata desprezível que só quer recuperar (na verdade, roubar) a poderosa arma do irmão do Samaritano para tocar o terror na cidade. Fazendo um paralelo com Sam, que idolatra o oposto, o filme reduz tudo a uma conversa rasa e erroneamente polarizada, típica da falta de substância dos debates partidários que encontramos internet a fio.
Samaritano pode ser uma boa sessão para você que gosta muito do Stallone e está com tanta saudade do querido e idoso brucutu que se dispõe a ativar a suspensão de descrença ao máximo para terminar um filme fraco, dirigido por um diretor ainda em formação e sem identidade e roteirizado por um escritor que não se importa com muita coisa – além do desejo de quem vai fazer o seu Pix.