Rytmos

O cenário dos jogos de música até hoje é bem engraçado. Não é uma dúvida de que eles são jogos musicais, cujo principal objetivo é seguir o ritmo e a melodia para ganhar pontos ou passar de fase. Mas eu acho que muitos deles não são muito sobre música, sabe? Sobre a arte de fazer música, sobre os sentimentos que as músicas trazem. Rytmos é um dos representantes desse outro lado, dos jogos “sobre música”. Ao invés de apertar botões freneticamente para conseguir um combo completo, ele te convida a sentar, relaxar e conhecer batidas e notas que fazem parte da vida de pessoas pelo mundo (e que você nunca deve ter ouvido antes).

O seu caminho pelo universo

Ao iniciar o jogo, Rytmos te apresenta um universo em pedaços, como se uma grande explosão tivesse acontecido. A sua missão é visitar cada sistema planetário e restaurar seus planetóides. Cada um desses sistemas é baseado num estilo musical bem específico e talvez desconhecido pelo grande público. Quando eu falo bem específico, falo do estilo Mbira (do Zimbábue), ou da cena de música eletrônica alemã dos anos 1970. As cores e os desenhos também acompanham cada sistema com sua própria identidade abstrata, porém, consistente. É realmente como se você estivesse visitando um estranho mundo que, exceto pelas músicas que está ouvindo, não é muito familiar.

 

E é aqui que o jogo realmente mostra a que veio. Rytmos é um jogo de puzzle sobre música, não um jogo musical com elementos de puzzle. Em cada planeta em forma de cubo, cada lado apresenta um quebra-cabeça diferente. Começando de um ponto inicial, você deve desenhar um caminho que passe por todos os alto-falantes e volte para onde começou, formando um ciclo. Ao avançar para uma direção, você só pode parar quando encontrar uma barreira ou o próprio caminho.

Outras mecânicas são incorporadas aos poucos, com uma específica por sistema planetário, como cubos de gelo como obstáculos móveis, ou até caminhos que passam por mais de um lado do cubo. Se você gosta de puzzles abstratos, pode até achar o jogo levemente fácil, mas não menos interessante. Cada mecânica é usada com muita maestria, sempre apresentando uma nova maneira de ver as mesmas simples regras. É uma pena que os controles para jogar no computador sejam tão ruins — claramente ele foi pensado para telas de toque e provavelmente vai ser o melhor jeito de jogá-lo no futuro.

A parte mais legal, entretanto, é quando você termina um dos desafios. Aquele ciclo começa a se repetir sozinho, fazendo com que os alto-falantes toquem no ritmo da música, incorporando ainda mais a melodia. A cada novo lado do cubo, a trilha sonora fica mais encorpada, dando ainda mais a ideia de estar recuperando a vida por trás de um planeta musical que acabou esquecido. Avançar para os próximos planetas de um mesmo sistema não só mostra formas mais complexas de explorar as mecânicas, como também é uma oportunidade pra conhecer ainda mais facetas daquele gênero musical.

Entrando nos Rytmos do mundo

Conforme as fases passavam no jogo, menos eu sentia que estava jogando um videogame, cujo objetivo é completar as fases e chegar ao fim. Rytmos, pra mim, é quase uma exposição interativa sobre os ritmos de um planeta que eu não tive o prazer de conhecer, uma daquelas que você veria em um museu modernoso na capital. Dando uma tarefa simples — de encontrar os ciclos entre os alto-falantes — a gente se sente como parte daquela música que vai crescendo e se formando na sua frente. É uma proposta bem diferente, que pode não ser pra todo mundo, mas uma vez que você a abraça e entende como ela quer ser, se torna algo muito, muito legal.

Ele abraça totalmente esse papel de ensinar interativamente sobre a história dos gêneros que inspiraram cada sistema planetário. Ao completar cada “cubo” de ciclos e completar uma música, o jogo te deixa brincar com uma simplória, mas interativa, versão de um instrumento típico daquele gênero musical. Enquanto alguns acabam sendo apertar uns botões e ouvir uns sons, eu realmente consegui tirar um som de um sintetizador e de uns bongôs. É a cereja do bolo para que você se sinta parte daquela música e daquele mundo.

Por mais que o jogo tenha esse ar superabstrato, ele sempre contextualiza cada fase, falando sobre a história do gênero, suas características musicais e seus expoentes históricos e atuais. De verdade, cada sistema tem uma página na internet com um resumo da história do gênero musical, links para vídeos e até uma playlist no Spotify curada pelos desenvolvedores. Inclusive, esse texto foi escrito todo ouvindo um interessantíssimo jazz etíope.

Para aproveitar tudo que Rytmos tem a oferecer, é importante pensar que você não comprou um jogo rítmico que se importa com combos, pontos ou sequências perfeitas. Você comprou um ingresso para uma singela exposição interativa sobre músicas que nunca ouviu antes, feita com muito carinho, muitas cores e uns puzzles de labirinto no meio. No fim das contas, é só relaxar, ouvir a música, fazer uns caminhos e entrar nos ritmos.

Uma cópia de Rytmos foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.