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Ruby Marinho: Monstro Adolescente e a luta contra estereótipos

Todo mundo ama sereias, isso é um fato desde que elas apareceram nas mídias pela primeira vez. Criaturas misteriosas, encantadoras, terríveis, encantam gerações a fio, e um dos seus exemplares mais populares possui cabelos vermelhos longos, uma bela voz e sua arqui-inimiga são as suas escolhas ruins, mas também a bruxa do mar Úrsula, que não possui uma cauda convencional e sim tentáculos, como os de polvo. E então, aqui eu pergunto: e se fosse ao contrário?

Ruby Marinho: Monstro Adolescente faz uma brincadeira com essa história do reino do rato falante e traz como protagonista Ruby, uma kraken adolescente esquisita que se sente muito deslocada no colégio, pois, bem, ninguém pode saber que ela não é humana e ter que disfarçar o tempo todo é exaustivo para a pobre garota. Porém, sua família proíbe essa única coisa: não pode entrar no mar, nunca! E o que acontece, é claro? Ruby acidentalmente vai parar no mar para salvar alguém e descobre o passado da sua família de cara, tendo que enfrentar os assuntos pendentes dela e, assim, encontrar um lugarzinho pra ela no mundo.

Bom, o filme é muito fofinho e não inova em absolutamente nada, ficando mais do mesmo. Não minto que esperava um pouco mais por ser claramente uma alfinetada na Disney, mas acho que a grandona nem vai sentir, pois essa animação não trisca nem na pontinha da cauda da Ariel. Porém, tem seus próprios méritos.

Ruby Marinho – Monstro Adolescente

O primeiro ponto positivo de Ruby Marinho: Monstro Adolescente é a desconstrução do estereótipo da sereia boazinha, amiga do mar etc. e do kraken como um ser malvado e cruel. Aqui, é deixado bem claro de cara que os krakens são protetores do mar e das suas criaturas enquanto as sereias são malignas e procuram a dominação dos oceanos sob força bruta. Claro, ainda fica a ideia ridículo de bem versus mal, mas vai demorar muito tempo antes de algumas pessoas perceberem que crianças conseguem entender coisas um pouco mais complexas. Enfim, tô divagando.

O segundo ponto positivo é que o interesse amoroso de Ruby gosta dela e toma iniciativa de paquerar com ela, o que é um pouco difícil de acontecer nos filmes porque parece que os roteiristas só têm as opções do boy ser abestado e nem demonstrar que gosta dela, mas no final, gostava sim, ou dele cair nos encantos da popular, mas no final das contas gostava mesmo era da protagonista.

O resto ficou bem no mais do mesmo, como o grupinho deslocado da protagonista cheio de tropos, a relação com a mãe, cuja base é firmada na falta de comunicação do começo ao fim, criando aquele plot do “se sentassem para conversar e fossem sinceras, o filme nem acontecia”, os pai e irmão que basicamente não existem pra história, ou a família que ela não conhecia ser da realeza, superpoderosa.

O que mais me irritou mesmo foi o da falta de comunicação. Ruby não conversar com a mãe que já tinha mentido pra ela é okay, acho um comportamento normal, mas a mãe permanecer obtusa, insistindo em não se comunicar com a filha que mal olha pra cara dela é demais. Chega em um determinado ponto que eu só quis bater na tela do cinema e gritar “MINHA FILHA, VOCÊ TÁ NA DÉCADA DE 1950??? CONVERSA! ABRE A BOCA E FALA A VERDADE!”, porque essa falta de conversa olho no olho já tava levando Ruby a cometer erros que obviamente levariam a coisa toda pro beleléu. E ainda é meio patético que, quando chega o momento da mãe fazer algo e impedir a própria filha de cometer um erro grotesco, o que ela realmente faz é correr até a própria mãe para brigar com ela por motivo N e não era o momento, sabe?

Ruby Marinho: Monstro Adolescente traz umas piadas pontuais que funcionam, e até mesmo uma leve crítica a essa era midiática cheia de fake news baseadas nos delírios de uma pessoa. A trilha sonora é divertida também, casando bem com as cenas, sendo aquela batida bem juvenil que lembra muito as músicas que estouram no Tik Tok.

Claro, como adulta eu não sou nem um pouco o público-alvo almejado pra esse filme, e eu sei que crianças vão adorar. A história é simples, com cores vivas e vibrantes, uma protagonista fofinha, um conflito familiar que pode interessar, músicas divertidas e todo o rolê da garota deslocada que passa a ser vista por todos como a pessoa incrível que realmente é – o sonho de todo mundo.

Então, apesar das minhas reclamações, se você tem filhos/as/es, leva para assistir que dá bom. Mas se você é só uma pessoa como eu, que gosta muito de filmes de animação, vai se decepcionar bastante.