Durante muito tempo, o slasher foi um dos subgenêros mais explorados do terror. Franquias como Halloween, Pânico e Sexta-Feira 13 dominaram os cinemas e os pesadelos de milhares de pessoas. Porém, o desgaste da fórmula fez com que maníacos mascarados perdessem espaço para fantasmas, bruxas e demônios. Mas como tudo na vida é cíclico, aos poucos o slasher está retomando ao seu lugar de prestígio. Rua do Medo: 1994 é a nova e ambiciosa aposta da Netflix. Funcionando como a primeira parte de uma futura trilogia, o longa diverte o espectador com inúmeras referências e um mistério instigante.
Baseada na obra do famoso escritor R.L. Stine, a trama é ambientada na conturbada e aparentemente amaldiçoada Shadyside. Quando um massacre assusta os moradores, um grupo de jovens precisa enfrentar uma série de perigos enquanto desvendam os segredos obscuros da cidade em que vivem. É com esse pano de fundo que a diretora e roteirista Leigh Janiak enche a tela com as mais diversas referências e homenagens aos clássicos do passado e produções contemporâneas. Para muitos, Rua do Medo: 1994 é uma fusão de Pânico e Stranger Things, mas isso reduz bastante o verdadeiro potencial do projeto. A muleta da nostalgia temática é utilizada em prol do desenvolvimento da história.
A mistura de slasher e sobrenatural demora a engatar, assim como os eventos do filme. No entanto, quando a mitologia é estabelecida, o longa entra em uma espiral de acontecimentos violentos e surpreendentes. Também entram em ação as subversões do roteiro, que tiram o espectador do lugar comum ao brincar com suas expectativas. O texto também inclui debates modernos de forma orgânica, sem que esses aspectos roubem todos os holofotes para o que realmente importa na narrativa. A quebra de esteriótipos fica ainda mais clara ao analisarmos os personagens, como, por exemplo, o casal de protagonistas e seus amigos fiéis. Até mesmo o drama juvenil é bem estabelecido, demonstrando consciência e conhecimento do gênero por parte de Leigh Janiak.
Rua do Medo: 1994 conta com um elenco jovem e talentoso. O carisma deles em tela consegue fisgar a atenção do público, o que é essencial para o desempenho do filme. Destaque especial para Kiana Madeira e Benjamin Flores Jr., de longe os que mais despertam o carinho do espectador. A ambientação e a trilha sonora são outros pontos de qualidade, garantindo uma viagem nostálgica pelos anos 1990. É interessante perceber como o projeto se mantém fiel ao seu propósito, evitando se transformar em um tipo de paródia. Para fins de comparação, basta lembrar do recente A Babá, também lançado pela Netflix. São dois extremos de uma mesma ideia.
Contudo, apesar de tantos aspectos positivos, Rua do Medo: 1994 ainda esbarra em alguns problemas. O primeiro está justamente na necessidade de plantar sementes para as vindouras sequências da trilogia. Veja bem, isso faz parte do plano geral. Mas é inevitável não pensar no quanto o filme poderia ir mais além sem essas amarras. O que nos leva ao segundo defeito: despertar tensão. Um crime grave ao analisar justamente um longa de terror slasher. Todos os elementos estão presentes, como a figura assustadora do assassino, planos mirabolantes e boas doses de gore. Porém, fora o bom uso de violência gráfica, o último ato fica abaixo do que é esperado em obras do segmento.
Usando bem clichês narrativos e referências temáticas, Rua do Medo: 1994 – Parte 1 é um prato cheio para entusiastas do terror. Funciona até certo ponto como uma peça individual e estabelece bem o terreno para o que vamos encontrar nos próximos filmes. Por sorte, a espera não será longa: temos encontro marcado com os sustos nos dias 9 e 16 de julho.