O segundo filme de uma trilogia costuma enfrentar uma situação complicada. Precisa preparar o terreno para o desfecho da história ao mesmo tempo em que não pode entregar todos os detalhes de bandeja ao espectador. Não é por menos que muitos tratam esse miolo como algo enfadonho. Por sorte, a segunda parte da trilogia Rua do Medo lançada pela Netflix não sofre tanto com isso. Aliás, consegue ser bem mais eficiente nos pontos em que seu antecessor falhou. Mesclando bem o horror e a mitologia da franquia, entrega um slasher de qualidade.
A trama continua de onde o último longa parou, com Deena (Kiana Madeira) e seu irmão Josh (Benjamin Flores Jr.) buscando uma forma de salvar Sam (Olivia Scott Welch). Eles vão ao encontro de C. Berman (Gillian Jacobs), uma sobrevivente do massacre do acampamento Nightwing, em Shadyside. Ao contar sua história, ela nos leva ao ano de 1978 e testumanhamos todo o terror daquela fatídica noite. Buscando referências em clássicos do gênero como Sexta-Feira 13 (1980) e Acampamento Sinistro (1983), Rua do Medo – Parte 2 entrega uma trama muito mais ágil e envolvente. A liberdade de não precisar fornecer inúmeras explicações, o calcanhar de Aquiles da Parte 1, também ajuda na construção da narrativa.
Além da ambientação bem estabelecida, os personagens de Rua do Medo: 1978 são muito mais interessantes. Isso deixa o espectador envolvido não apenas no mistério, mas também estabelece um vínculo de preocupação com o bem-estar de cada um. Destaque para a relação entre as irmãs Cindy Berman (Emily Rudd) e Ziggy (Sadie Sink, o coração do longa). Retornando aos postos de diretora e roteirista, Leigh Janiak mostra o completo domínio do projeto. A inserção dos clichês do terror continua orgânica, sem jamais tornar o filme em uma homenagem barata. Temos então jovens usando drogas, jovens morrendo após o sexo, bullying, romance etc. E claro, muitas doses de sangue. Destaque para os efeitos práticos e especiais nas cenas de gore.
Outro aspecto que ganha mais importância é a relação dos habitantes com Shadyside e a histórica rivalidade com Sunnyvale. Isso torna a mitologia por trás de tantos acontecimentos trágicos bem mais consistente e interessante. Além de fazer da cidade uma personagem ativa na trama, o que é sempre bom para filmes desse tipo. A figura da bruxa Sarah Fier ganha muito mais corpo, principalmente pela forma como Rua do Medo: 1978 abraça de vez o sobrenatural. Os sustos ainda são escassos, mas o grau de urgência é elevado. A trilha sonora continua digna de elogios, tocando clássicos como Cherry Bomb e Carry On Wayward Son.
Mesmo com tantos pontos de qualidade, Rua do Medo: 1978 não é perfeito. O roteiro possui alguns furos e investe na surpresa de um plot twist na reta final, mas sem sucesso. Quando não está tentando dar um passo maior do que a perna, o longa funciona muito bem. Equilibrando o horror e o sobrenatural, essa segunda parte supera sua antecessora e deixa um gancho curioso para o vindouro encerramento. Nos encontramos novamente no dia 16 de julho.