Você já deve ter ouvido falar da maldição do terceiro filme. Mais popular em longas de super-heróis, o termo é utilizado quando o desfecho de uma trilogia acaba sendo a pior parte dessa jornada. Homem-Aranha 3 do Sam Raimi, X-Men: O Confronto Final, Homem de Ferro 3 e por aí vai. A cinessérie Rua do Medo, lançada ao longo das últimas semanas pela Netflix, obviamente não faz parte do universo dos quadrinhos, mas acaba se encaixando nesse cenário. A terceira e última parte do projeto cumpre bem sua função, encerrando a história e amarrando as pontas soltas. Mas sacrifica os melhores atributos de seus antecessores no processo.
Em Rua do Medo: 1666 – Parte 3 continuamos a viagem no tempo, dessa vez indo para a origem dos males que assolam os habitantes de Shadyside. Acompanhamos então os eventos trágicos que antecedem a morte de Sarah Fier e o nascimento da temida bruxa. Ou pelo menos é o que parece. Mantendo a tradição de prestar homenagens aos clássicos do terror, a diretora Leigh Janiak deixa o slasher de lado para investir no terror psicológico e sobrenatural ao ambientar a trama no século XVII. É impossível não fazer uma associação com o recente A Bruxa, especialmente pela mescla de horror e males sociais. Porém, além de alguns paralelos, o longa nunca passa da superfície dessa abordagem. Em termos de ambientação, a Parte 2 ainda é a melhor de todas.
Não pense então que o núcleo em 1666 é ruim, apenas é mal aproveitado. A direção não consegue estabelecer uma atmosfera sufocante como é costume em longas com esse viés. Ainda assim entrega momentos bastante criativos, como uma cena específica na igreja, provando que, com mais tempo e cuidado, o resultado poderia ser muito melhor. A utilização do elenco dos outros filmes é uma boa sacada, pois investe no envolvimento emocional do espectador. Apesar de construir sua narrativa de forma não-linear, a Trilogia Rua do Medo precisa encerrar seu ciclo e entregar tudo que fora prometido durante as últimas semanas. O que resulta em um abrupto retorno ao ano de 1994, quebrando um pouco da imersão. Embora fosse algo previsível pela forma coma a cinessérie foi trabalhada.
Com todo o segredo por trás da maldição de Sarah Fier finalmente exposto, Deena (Kiana Madeira), seu irmão Josh (Benjamin Flores Jr.) e Ziggy (Gillian Jacobs) agora sabem o que precisa ser feito para salvar Sam (Olivia Scott Welch) e toda a população de Shadyside. O roteiro investe em um plot twist para causar surpresa no público, que funciona pela questão da quebra de paradigmas. A sequência final no shopping cai num território comum, mas acerta ao investir na inventividade do plano. Ainda que seja um encerramento corrido, principalmente pela estrutura do filme, o resultado final acaba sendo positivo. E ainda deixa um gancho para um retorno no futuro.
Com mais acertos do que erros, a Trilogia Rua do Medo chega ao fim de uma maneira satisfatória. Equilibrando bem a literatura juvenil de R.L. Stine com tons mais maduros de terror, a cinessérie mostra que prestar homenagens não significa entregar uma cópia barata. Leigh Janiak e sua equipe não reinventam o cinema, mas apostam em algo que apenas o streaming pode entregar atualmente: engajamento. Foram três semanas divertidas e fica a esperança de que mais projetos desse tipo sejam lançados.