A série espanhola Respira chegou na Netflix ano passado com a promessa de renovar o gênero dos dramas médicos. Criada por Carlos Montero — conhecido por Elite —, a produção ambienta-se em um hospital público em Valência e combina dilemas pessoais, disputas políticas e casos clínicos de alto risco. Embora siga fórmulas consagradas por produções como Grey’s Anatomy e The Good Doctor, Respira aposta em um olhar mais crítico sobre o sistema de saúde e sobre os limites éticos da profissão médica. Confira a nossa crítica:
Respira: um hospital à beira da greve
Logo no episódio de estreia, o público é apresentado ao Hospital Público Joaquín Sorolla, onde médicos e residentes enfrentam jornadas exaustivas e falta de recursos. A tensão aumenta com a iminência de uma greve liderada pelo oncologista Néstor Noa (Borja Luna), que tenta protestar contra as deficiências do sistema. No entanto, a médica Pilar (Aitana Sánchez-Gijón) se recusa a abandonar os pacientes, defendendo o juramento da profissão mesmo diante da pressão política.
Essa combinação entre caos hospitalar e luta sindical serve como pano de fundo para as múltiplas tramas pessoais dos personagens. Entre eles está Biel (Manu Ríos), um residente carismático e impulsivo que se envolve em um relacionamento proibido com a médica assistente Jésica (Blanca Suárez), enquanto tenta lidar com os próprios dilemas morais e profissionais.
Política, doença e poder na série Netflix
O enredo ganha complexidade quando Patricia Segura (Najwa Nimri), presidente do governo de Valência, é internada após um acidente. A descoberta de que ela sofre de um câncer de mama a obriga a depender do mesmo sistema público que criticava, transformando sua trajetória em um espelho das contradições sociais e políticas da Espanha contemporânea.
A presença de Patricia também estabelece uma conexão direta com os conflitos de Néstor e Pilar, ampliando a discussão sobre saúde pública, desigualdade e poder. A série não se limita aos dramas românticos e médicos; ela também explora como as decisões políticas afetam diretamente a vida de pacientes e profissionais da saúde.
Relações e conflitos no pronto-socorro
Respira se apoia fortemente nas relações interpessoais entre médicos, residentes e enfermeiros. Há espaço para histórias de amor, rivalidades e dilemas éticos, incluindo o caso de uma médica grávida que insiste em continuar trabalhando, mesmo com os riscos para sua saúde. Esses elementos aproximam a série do formato de novela hospitalar, mas com ritmo acelerado e estética moderna.
As cenas de cirurgia são realistas e detalhadas, o que pode causar desconforto em alguns espectadores, mas reforçam o compromisso da produção com a verossimilhança. Visualmente, o trabalho de câmera lembra o estilo de Grey’s Anatomy, com iluminação intensa e cortes rápidos que ampliam o senso de urgência.

Crítica: Respira é uma boa série pra assistir na Netflix?
Um drama médico com sotaque espanhol
Embora não traga grandes inovações narrativas, Respira encontra força em seu contexto cultural. O olhar espanhol sobre o sistema público de saúde oferece nuances diferentes das produções americanas, e a presença de Najwa Nimri confere intensidade às cenas mais políticas.
A série se destaca por unir entretenimento e crítica social, equilibrando romance, tragédia e discussões éticas. Para quem gosta de dramas médicos e busca uma produção europeia com ritmo envolvente, Respira cumpre bem seu papel.
Respira é uma novela médica moderna, que mistura paixões, dilemas morais e disputas de poder em um hospital prestes a entrar em colapso. Mesmo sem reinventar o gênero, oferece personagens fortes, ritmo constante e uma crítica pertinente à saúde pública — elementos que garantem à série seu próprio fôlego na Netflix.