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Relendo As Crônicas de Gelo & Fogo: A Guerra dos Tronos

Reler As Crônicas de Gelo & Fogo é um exercício agradabilíssimo para quem é fã da obra criada por George R. R. Martin. O primeiro volume, intitulado A Guerra dos Tronos, cumpre bem o papel de apresentar o universo do autor, ao mesmo tempo que possui um desenvolvimento de personagens ímpar. Tudo de forma simultânea ao longo das páginas publicadas pela Editora Leya.

A narrativa de Martin, que ocorre através do ponto de vista de cada personagem, permite uma imersão profunda na mente de figuras como Tyrion Lannister, além dos Stark Eddard, Arya, Bran, Sansa e Jon Snow. Isso traz um elemento crucial para a trama: a verdade relativa. Muitas informações que recebemos acabam chegando de modo enviesado, possibilitando o autor rever o mesmo fato com ares de novidade páginas adiante.

Cada um tem seu lugar em Westeros muito bem definido pelo autor, antes de começar a bagunçar suas estruturas: Ned é o líder honrado, atributo que o deixará sempre na linha tênue entre a virtude e a ingenuidade. Sansa é a romântica, que basicamente acredita nos contos de fada envolvendo belos príncipes salvadores. Arya é o oposto da irmã: briga para não ser uma lady, preferindo atividades dominadas por homens, como a esgrima e cavalaria.

Ainda mais deslocados estão Jon Snow e Tyrion, onde ambos são desprezados pelas pessoas: o primeiro é um bastardo, nascido de um suposto caso extra conjugal de Ned, enquanto o anão, bem, é um anão.

Outra que ajuda muito a desenrolar a trama é Catelyn Stark, originária da Casa Tully e mãe das crianças de Winterfell. Através dela também temos conhecimento das ações do único filho Stark sem ponto de vista: Robb.

Estruturalmente, temos três principais frentes narrativas: Porto Real e os meandros de Westeros, como Winterfell. A muralha, mais ao norte, onde uma decadente Patrulha da Noite protege o reino dos homens de qualquer ameaça. E para lá do mar estreito, nas Cidades Livres, onde acompanhamos Daenerys e Viserys Targaryen tentando sobreviver com a motivação de um dia reconquistarem o reino, que por direito pertence à sua família.

Martin também adota um agradável sistema de divisão de casas em A Guerra dos Tronos, ou seja, cada família possui seu próprio estandarte, terras e símbolos definidos, onde algumas são vassalas de outras. Isso ajuda o leitor a princípio, mas certamente acabará confundindo algumas vezes dada a vastidão de nomes criados pelo autor.

Impactando o leitor

Vale apontar que George R. R. Martin é certeiro em cenas de impacto, como a queda de Bran logo no começo do livro, a “coroação” de Viserys Targaryen, a morte do Lorde Stark e o nascimento dos dragões de Daenerys, só para ficar em alguns exemplos. Das interações entre os personagens também surgem relações interessantíssimas, como Arya Stark com seu “mestre de dança”, Syrio Forel; Daenerys com Sor Jorah Mormont, um cavaleiro renegado que atua como espião do rei; além de Tyrion e Bronn, um mercenário que salva o duende e estabelece uma relação baseada no interesse.

Outra forte característica na escrita de Martin em As Crônicas de Gelo & Fogo é a política. O jogo dos tronos aqui é representado pela figura dos governantes em Porto Real, onde vive o rei Robert Baratheon. Lá, ele possui um conselho tão complexo em relação ao interesse de cada membro, que por vezes nos questionamos se eles estão interessados no bem do reino de verdade. É uma visão sem bem ou mal, mas humana, e facilmente comparável com situações do nosso mundo como uma Câmara dos Deputados, para ficar num exemplo mais próximo.

O rei, por sua vez, é uma quebra de todo o encanto que a palavra traz. Quinze anos se passaram desde sua rebelião, e a verdade é que ele nunca serviu para o cargo, pois prefere uma vida de farra à luz de um Trono de Ferro conquistado de modo emocionante e combativo com direito a um embate entre Robert e Rhaegar no Tridente. Não à toa, muitos fãs pedem por uma história separada sobre essa conquista.

Esses fatores fazem com que A Guerra dos Tronos, início da saga, já carregue a definição de realismo fantástico, devido à carga humanizada que George R. R. Martin dá a todos os aspectos da sua história. Corrobora para essa definição a crueldade do mundo estabelecido.

Felizmente, A Guerra dos tronos é um livro tão rico na construção e execução do seu universo que acabam ficando de fora do texto alguns personagens incríveis, como Khal Drogo, Gregor e Sandor Clegane, Sam Tarly, além dos lobos dos Stark.

Se tiver a oportunidade, releia As Crônicas de Gelo & Fogo, é uma chance de mergulhar ainda mais fundo em Westeros e além. Se ainda não leu, tá esperando o que? É nos livros que você tem a chance de adentrar em Game of Thrones de uma forma que só irá fortalecer seu amor pela série da HBO, mesmo com suas diferenças na adaptação.