refugiados a última fronteira darkside books refugiados a última fronteira darkside books

Refugiados: A Última Fronteira | Crítica

HQ publicada pela DarkSide Books, da autora Kate Evans, Refugiados: A Última Fronteira aborda um tema extremamente atual, de uma forma visceral e particular

E se a guerra te tomasse tudo, desde as coisas mais básicas como água, comida e moradia? Pois é esse cenário a realidade para muitos refugiados, pessoas que acabam sendo forçadas a viver uma situação desumana por intermédios dos poderosos que forçam a belicosidade em várias partes do mundo, apenas pelo ganho pessoal. E é com base nisso que a cartunista e ativista Kate Evans nos apresenta essa narrativa visceral e angustiante em Refugiados: A ultima fronteira.

Na obra, Evans mostra histórias que viu acontecer de perto em seus dias de voluntária na cidade portuária de Calais, na França,  conhecida por suas rendas belas e singelas. Um ponto lindo da edição da DarkSide é que as rendas são lembradas o tempo todo, seja dividindo alguns quadros (isso é por conta da autora), enfeitando a capa e o marca páginas fixo da edição, que é uma linda tira de renda. Essa beleza serve como contraste às historias que acompanhamos nesta HQ.

Kate optou por mudar alguns nomes e mesclar algumas histórias em respeito às pessoas que viveram algumas das situações mais degradantes possíveis. E amigos, não são poucas.

O ano é 2016, e na cidade Francesa de Calais, surge uma outra cidade, uma imagem perturbadora que arranha e incomoda, chamada “A Selva”. Um emaranhado de blocos de plástico e papelão, quando com sorte, compeçados de madeiras, cheio de pessoas esperando a liberação para conseguirem de alguma forma chegar no Reino Unido, pois ali eles encontrariam um recomeço, já que a maioria perdeu tudo. Menos a esperança.

Em sua experiência como voluntária, ela acaba se aproximando de várias dessas pessoas e, com sua arte, consegue quebrar um pouco dessa muralha de dor e trazer algum sorriso para essas pessoas tão calejadas.

Kate combina narrativa visual agressiva com quadrinhos jornalísticos para mostrar como o governo trata essas pessoas e como nós mesmos, em nosso pensamento niilista e absurdo, tratamos o outro pela simples falta de empatia. Ver uma mulher grávida morando no meio do lixo e dos ratos é desolador e, mesmo sem nada, algum deles são extremamente receptivos e hospitaleiros, dando aquilo que não possuem pelo simples fato de receber bem o outro, coisa que não fazemos.

O traço de Kate para essa HQ lembra as ilustrações de uma criança, com cores chapadas de lápis, trazendo justamente a ideia agressiva de um infante querendo mudar as cores do mundo. A raiva no olhar de algumas pessoas é assustador, mas a fome e a desolação é muito mais.

Uma obra para refletir, emocionar e principalmente, incomodar. Seja ao ler, no visual ou nas situações apresentadas. O pior de tudo, incomoda por apresentar um quadro sujo e deprimente da humanidade. Mas ainda existe esperança, isso nunca pode morrer.