O texto a seguir contém SPOILERS de Quarteto Fantástico. Se você ainda não viu, se estica logo para o cinema mais próximo, porque essa viagem dimensional já vai começar!
A equipe mais antiga da Marvel já passou por altos e baixos durante sua longa trajetória. Já foi uma das revistas mais vendidas, assim como já ficou encalhada nas bancas e comics shops. Mas parece que é mesmo no cinema que habita o calcanhar de Aquiles do Quarteto Fantástico.
O novo filme da franquia tinha tudo para ser um belo recomeço. A Fox apostou alto, parecia decidida a levar o projeto mais a sério do que nas duas encarnações anteriores. Acontece que o sentimento de que faltou algo nasce imediatamente após o final do longa. Longe de ser o PIOR FILME DE HERÓI DE TODOS OS TEMPOS como vendem alguns “sites especializados”, Quarteto Fantástico também não é tudo o que seu potencial lhe permitia ser.
Josh Trank foi escolhido para comandar o barco devido ao seu excelente trabalho em Poder Sem Limites. Ele soube abordar em seu filme de estreia como super poderes afetariam pessoas até então normais. Além de trabalhar bem a relação entre seus personagens principais. Tudo isso é mais que necessário em uma história do Quarteto Fantástico. Mas Trank não percebeu o peso dos personagens que tinha nas mãos. E esse foi seu pecado.
A paleta sombria do diretor está presente. As cenas correspondentes ao acidente que dá poderes à equipe é brutal. Quase como um filme de terror, Reed Richards (Miles Teller) presencia seus amigos sofrerem com a recente transformação. Se alguém ganhasse poderes na vida real, não seria muito diferente do que é mostrado no filme. A construção da união entre os membros do Quarteto também é muito bem feita. É fácil comprar a amizade de Reed e Ben Grimm (Jamie Bell), assim como sua interação com Johnny (Michael B. Jordan) e Sue (Kate Mara). O Victor von Doom de Toby Kebbell é o elo fraco da corrente. Seu jeito de gênio arrogante não convence. É um aviso do que viria por aí.
A busca por sempre mostrar o lado mais científico do filme é bacana e o diferencia das produções anteriores. Mas o desenvolvimento, mais lento que o normalmente apresentado em filmes de origem, não deixa o longa engrenar. Parece que a qualquer momento os créditos vão subir e nada de extraordinário vai acontecer. Nesse ponto fica explícito o quanto as visões de diretor e estúdio eram diferentes. Trank parecia não querer um luta entre mocinhos e vilão, se contentando apenas em mostrar a origem do Quarteto. Pura e simples. Mas a Fox certamente empurrou o Doutor Destino goela abaixo. Afinal é um filme sobre super-heróis. Em algum momento eles teriam que fazer algo, digamos, heroico.
Quase que totalmente inspirado no pitoresco Universo Ultimate, o longa absorve todos os erros e acertos de seu material base. Victor consegue ser tão inútil quanto sua versão literária. Até mesmo o visual é uma cópia medonha do que é mostrado nessa realidade. Com motivações rasas, seu “plano de mestre” nada mais é do que um compilado de todo o clichê que já cansou de ser mostrado pelos vilões ultimamente (abraço Ultron). Sua primeira – e ao mesmo tempo última – luta com a equipe principal é risível. E faz parecer a suposta ideia original de Trank, da ausência do cara mal, ser quase genial.
Reed é o contraponto positivo. Miles é um ator talentoso e soube passar bem por todos os problemas internos da produção. Inclusive é difícil olhar para o cara e não imaginá-lo como o vilão megalomaníaco que Reed Richards se tornou no universo Ultimate. Pelo menos o fundo sombrio já foi apresentado pela Fox. Ben, Sue e Johnny também lembram suas versões Ultimate. Por falar nisso, alguém mais se ligou nas encaradas que o Ben dá na Sue? Quem conhece esse universo alternativo sabe do que eu estou falando.
Soluções e decisões apressadas permeiam o final do filme. Após salvar o dia, ou uma instalação do governo, a equipe rapidamente vira a queridinha dos EUA. Ganhando até um local para bancarem os cientistas loucos, e não estou falando do Edifício Baxter. A blindagem feita pela Fox ao redor do filme acabou gerando expectativas que não foram correspondidas. Ou até foram, dependendo do que você esperava. Um pouco de transparência com o espectador certamente faria muito bem ao longa. E as falhas, que não conseguiram ser mascaradas, poderiam nem mesmo existir.
Com alguns acertos e muitos erros, o destino do Quarteto Fantástico é incerto. Sabe-se que a Fox tem planos ainda maiores para a equipe, entre eles uma parceria com os X-Men. Talvez esse seja o caminho dos tijolos amarelos. Eles não pediram para ter esses poderes, mas agora vão encarar um perigo muito maior. Uma legião de fãs irritados. O resultado dessa luta só o futuro dirá.