A cultura pop adora uma boa dupla de protagonistas. Sejam elas oriundas dos filmes, séries ou quadrinhos. Existe um charme especial em parceiros trabalhando juntos, e nem sempre se entendendo no processo, para salvar o dia. Na Marvel, ninguém representa melhor esse conceito do que Punho de Ferro e Luke Cage. Algo que transcendeu as páginas das revistas e ganhou vida na Netflix.
Muitos dos melhores momentos de Os Defensores são protagonizados pela dupla Mike Colter e Finn Jones. O que nos leva a pensar que seria melhor cancelar as segundas temporadas de suas respectivas séries e investir logo nos Heróis de Aluguel. É a personificação de uma química que existe muito tempo antes da empresa de Los Gatos dominar o serviço de streaming. E que acrescenta um sabor especial nessa mistura de personagens urbanos.
Em 1972 a Marvel publicou a primeira edição de Luke Cage: Hero for Hire, mostrando as aventuras do homem indestrutível entre casos pagos e outros atos de boa fé. Antes de Jessica Jones se destacar no serviço, Luke já tocava suas investigações particulares por aí. Mas foi em 1978 que o destino do personagem mudou para sempre. Em três edições especiais, ele dividiu espaço com o Imortal Punho de Ferro. O que não passava de uma tentativa de reerguer as vendas dos quadrinhos dos personagens. Algo que deu incrivelmente certo.
Power Man and Iron Fist, novo nome da revista estrelada por eles, virou um hit de vendas. Nessa primeira fase foram mais de 120 edições, com participações especiais de personagens que também ganharam destaque nas séries Marvel/Netflix como Colleen Wing e Misty Knight (também conhecidas como Filhas do Dragão). Os Heróis de Aluguel entraram para a história, tanto que a editora sempre dá um jeito de trazê-los de volta. Seja com uma nova versão da revista mensal, aventuras solo e até algumas passagens pelos Vingadores.
Ainda que possuam personalidades e origens distintas, embora ligadas pelas tragédias pessoais, Punho de Ferro e Luke Cage se completam. Muito por conta dos esteriótipos utilizados no momento de suas criações. Cage nasceu no momento de fervor do movimento blaxploitation, fruto da visão comercial da Marvel. Já Danny Rand carrega em seu cerne os clichês dos filmes de kung fu dos anos 70, o que ainda gera algumas críticas quanto a sua abordagem inicial.
Embora tenham sido debatidas ao longos das edições, as divergências de pensamentos dos personagens ganham espaço em Os Defensores. Num diálogo bastante certeiro, Luke e Danny expõem suas visões de mundo, lapidadas pelo meio em que foram criados. Mesmo que aparentemente opostos, são crenças que convergem para o mesmo ponto: a justiça. Claro que também existe espaço para o bom humor, equilibrando assim o leque de opções para o roteiro. E mostrando que o Punho de Ferro da TV ainda possui salvação.
Com grandes roteiristas envolvidos nas histórias, Punho de Ferro e Luke Cage evoluíram sua parceria assim como suas personalidades. Compartilharam ensinamentos, vivências e situações que os transformaram em algo mais complexo do que foi apresentado nas primeiras versões. É uma mina de ouro que já foi explorada por gigantes como Brian Michael Bendis e até ganhou um novo título pelas mãos de David F. Walker (Shaft, Cyborg) e Sanford Greene (The Runaways, Uncanny Avengers).
Em Os Defensores, ambos ainda precisam dividir espaço com Jessica e o Demolidor, mas a sinergia da dupla consegue se destacar mais do que suas ações individuais. Agora que essa primeira fase na Netflix está encerrada, os produtores voltam seus olhos para o futuro. E não existe ninguém melhor para ajudar nesse momento do que os Heróis de Aluguel. Pelo preço justo, eles sempre salvam o dia.