A Netflix trouxe ao catálogo Pssica, série brasileira de quatro episódios produzida pela O2 Filmes, baseada na obra homônima de Edyr Augusto. Ambientada no Pará e com passagens pela Guiana Francesa, a produção expõe temas como tráfico humano, exploração sexual, violência e corrupção, ao mesmo tempo em que mergulha na cultura e nas regionalidades amazônicas. Confira a seguir a nossa crítica:
A história de Pssica
A trama acompanha Janalice (Domithila Cattete), jovem do interior do Pará que tem sua intimidade exposta na internet e, após ser rejeitada pela família, acaba caindo nas mãos de uma rede criminosa de exploração sexual. Ao longo de sua jornada, a personagem atravessa Belém, Marajó e a fronteira com a Guiana Francesa, cruzando caminhos com figuras que carregam suas próprias tragédias e dilemas.
Entre esses personagens está Mariangel (Marleyda Soto), ex-guerrilheira das FARC que busca vingança após perder a família para criminosos locais. Outro destaque é Preá (Lucas Galvino), integrante da rede de exploração que, apaixonado por Janalice, tenta resgatá-la. O enredo ainda conta com Amadeu (Sandro Guerra), policial aposentado que se envolve na investigação do desaparecimento da protagonista.
O peso da palavra “Pssica”
O título da série traz uma expressão típica do vocabulário paraense. “Pssica” significa “azar” ou “maldição” e, segundo Edyr Augusto, a grafia com dois “s” reforça o som sibilante da palavra. O termo funciona como metáfora para o destino das personagens, marcadas por um ciclo de violência e pobreza que parece impossível de romper.
Embora a narrativa seja ficcional, ela reflete problemas reais da região Norte do Brasil, como o tráfico humano, a prostituição infantil, a impunidade e a corrupção. Essa aproximação com a realidade é um dos pontos mais fortes da série, ainda que o roteiro por vezes opte por exageros dramáticos.
Comparações com Cidade de Deus
Um debate recorrente em torno de Pssica é a comparação com Cidade de Deus (2002), clássico dirigido por Fernando Meirelles — que também está envolvido na produção da minissérie. A ambientação nas comunidades ribeirinhas do Pará e a crueza dos retratos sociais reforçam essa associação, mas a série não alcança o mesmo equilíbrio narrativo do filme.
Enquanto Cidade de Deus construiu uma progressão sólida da violência urbana carioca, Pssica peca em alguns momentos por cenas de ação pouco verossímeis e por personagens que beiram a caricatura. O resultado é uma obra que inicia com grande impacto, mas perde força em sua condução até o desfecho.

Atuações e destaques da série Netflix
No elenco, Domithila Cattete tem sua estreia em um papel de destaque e interpreta Janalice com contenção, refletindo a fragilidade da personagem. A atriz cumpre sua função narrativa, embora sua inexperiência pese em momentos mais intensos. Marleyda Soto, como Mariangel, entrega uma das atuações mais marcantes da série, enquanto Lucas Galvino, no papel de Preá, enfrenta limitações impostas pelo roteiro.
Já Sandro Guerra, como Amadeu, oferece um contraponto interessante, trazendo densidade ao arco policial. Esses núcleos ajudam a manter o interesse do público mesmo quando a narrativa se torna irregular.
O final explicado de Pssica
O final da série mostra Janalice sendo resgatada da rede de exploração sexual e retornando à sua cidade natal. No entanto, ao se aproximar de sua casa, a jovem desiste de reencontrar a mãe e decide partir com Mariangel. A decisão reflete a falta de apoio familiar desde o início de sua trajetória, quando foi expulsa após ter sua intimidade exposta.
A escolha de não voltar para casa simboliza a busca de Janalice por autonomia e a recusa em retomar vínculos que a colocaram em situação de vulnerabilidade.
Crítica: Vale a pena assistir a Pssica na Netflix?
Pssica não é isenta de falhas narrativas, mas apresenta uma visão contundente sobre a violência estrutural que marca a vida de milhares de pessoas na região amazônica. Com uma ambientação autêntica e personagens em constante embate entre sobrevivência e destino, a série ocupa um espaço relevante no catálogo da Netflix.