Filme não poderia ser mais atual
Ontem à noite atendi aos pedidos de toda minha bolha nas redes sociais e fui finalmente assistir Bacurau, o filme brasileiro premiado em Cannes. Assim que saí da sessão, enquanto esperava o carro do aplicativo, vejo uma notícia na TV sobre índios na Amazônia que pegaram em armas e motoserras para defender suas terras. Fiz logo uma conexão óbvia com o filme que acabei de ver e tive a confirmação que Bacurau é uma obra muito importante para o Brasil atual. O texto a seguir contém spoilers do filme.
Anti-imperialismo
Bacurau possui tantos temas, tantas discussões, que é difícil escolher por onde começar a falar. Um dos temas principais da obra é o chamado anti-colonialismo, conceito que se assemelha um pouco ao anti-imperialismo. Ambos os movimentos são manifestações contra a ajuda, intervenção ou exploração de um povo por uma nação mais desenvolvida economicamente. Em várias cenas podemos ver que os habitantes de Bacurau não nutrem nenhum respeito pelas autoridades, visitantes do sul e principalmente os invasores americanos. Conhecendo o prefeito que tem, quase não aceitam a sua ajuda mesmo passando por dificuldades. Em contrapartida a isso, eles enaltecem Lunga, um “criminoso”, que representa um cangaceiro contemporâneo, alguém que acaba indo para o crime para lutar contra um sistema opressor.
Esse movimento vai totalmente contra o sentimento de vira-lata que define o nosso atual governo e os seus seguidores. Esses ditos “nacionalistas” não amam o Brasil do jeito que ele é, com suas desigualdades e peculiaridades. Eles desejam que o Brasil se curve e se torne os Estados Unidos. Bacurau mostra que podemos e devemos ter orgulho das nossas origens, que a nossa cultura é muito mais importante do que qualquer ideologia enlatada que vem de fora.
Vira-latismo
Uma cena nada sutil que mostra esse sentimento de vira-latismo é quando os brasileiros do Sul estão conversando com os estrangeiros. Os sulistas do filme não se sentem como brasileiros, eles sentem como se fossem uma casta superior muito mais próximos de europeus do que tupiniquins. Essa nova classe média (ou novos ricos) é, muitas vezes, fruto de um governo que trouxe várias oportunidades e poder de compra para boa parte da população. Atualmente, essa nova classe média cospe no prato que comeu, sendo contra esse governo que justamente lhe proporcionou o boom econômico.
Essa filosofia de anti-imperialismo traz um anticlímax genial no terceiro ato do filme. O longa é construído como um slasher, a tensão criada nos faz acreditar que o fim do filme será um massacre. Só que no final, esse massacre acontece do outro lado. Bacurau mostra que o sertanejo, o pobre, o negro ou o desfavorecido não são coitadinhos. Lógico, as minorias e oprimidos precisam de assistência do governo, mas isso não quer dizer que devemos entregar nossa cultura de mão beijada para os americanos e nos deixar ser colonizados novamente. E esse é só um dos milhares de temas que Bacurau nos traz, um filme importante e necessário para o Brasil de Jair Bolsonaro.
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