Red: Crescer é uma Fera é mais um patamar alcançado na transformação da Pixar no mundo das animações. O filme, definido como comédia infantil, leva acabamentos bem maduros e mais distintos do que estamos acostumados .
Lançado em março de 2022 pela Disney Pixar e disponibilizado no serviço Disney+, Red: Crescer é uma Fera conta a história de Meilin Lee, uma adolescente sino-canadense que tem que apreender a conviver com suas emoções e a maldição da sua família. Enquanto o filme se desenrola em um esquema estimulante, a produtora usou novos recursos de narrativa e arte.
Embora já seja costume a abordagem sobre família nas obras da Pixar, Red: Crescer é uma Fera traz um viés experimental que nos conquista muito mais pela identificação. Se tomarmos Merida, de Valente, como um bom exemplo, vemos que em Red o arco do herói segue na mesma direção deste, exceto pela motivação principal. É aí que a história constrói a estrutura do monumento que virá adiante.
Enquanto o impulso inicial de Valente, ou até mesmo de Luca, vinha de uma ação de fora, Meilin esbanja uma personalidade dividida que toma as rédeas da história. A responsabilidade com sua família e a autenticidade perto das suas amigas são sempre oferecidas pela metade, gerando assim o laço que comunica com o público, quer seja ele infantil ou não.
A lenda por traz do panda vermelho é muito bem encaixada em uma trama que necessitava de uma engrenagem imaginária. O animal engole a história e dá mais sentido ao embate da trama – embora ele não seja explorado tão a fundo assim. O panda vem para consolidar a metamorfose dos sólidos temas de Red. Família, tradição, autenticidade e amadurecimento se embolam num mapa mental que flui para um final surpreendente.
A Pixar consegue trabalhar muito bem os principais dilemas da narrativa. Red traz a conjunção de todos os sentimentos da pré-adolescência juntamente com os tabus evitados pelos estúdios infantis até então, como menstruação. Novamente, o filme ganha uma máscara madura enquanto guia seu lado criança pela incrível transformação da vida.
O conflito entre mãe e filha é algo a se admirar na narrativa. Não é simples, não é fácil tomar um partido e, ao mesmo tempo, é carregado de constrangimentos que muitos passam durante essa fase. Os momentos finais em que a mãe resolve se libertar, mostra o quão traumática e séria era a situação que serviu de playground para o espectador.
Nesse mesmo sentido, o filme revela uma imagem clara de que muitos passam até hoje. A correria diária, a busca pela perfeição, as paixões, as diversões entre amigos e os segredos que se mantém em família. Cada um desse segmentos recebe sua devida atenção nas eufóricas mãos de uma protagonista energética.
É por esse e outros pequenos motivos que Red tem a ver com identificação e é uma das obras mais maduras produzidas até agora. Mesmo que a história dos ancestrais chineses e da tradição da família sino-canadense de Meiling Lee abranja um novo local de fala pela Pixar (necessário, diga-se de passagem), ela não é limitadora para entendermos o que se passa com a jovem.
Enquanto os espectadores lidam com uma trama bem condensada, os amantes de design se divertem com as inovações de Red. A Pixar oferece o melhor do mundo das animações ocidentais e as emblemáticas características do mundo dos animes. Por mais que a arte siga os padrões da produtora, a todo momento é possível se sentir assistindo um cartoon, com exageros deliciosos e modulações de arte bem produzidas.
Um último detalhe, que não pode passar despercebido pelos nossos olhos, é a temática anos 2000. Enquanto o mundo pop vive a ressureição da estética dos anos 2000, Red devolve tudo aquilo que queríamos ver para continuar este ciclo. A presença do tamagotchi, os bilhetes à mão na sala de aula, o visual das personagens e a soundtrack boyband consolidam a nostalgia.
Desde a narrativa, passando pela arte e finalizando na música, Red é um filme necessário. A Pixar nunca trabalhou tão bem a junção de temas que pareciam não conversar entre si. Precisávamos deste filme, pois ele é um ponto de partida para o mundo mesclado das animações.