Antes de mais nada, queria deixar claro que este texto nada mais é que uma opinião bem particular minha e que não se trata de nenhum tipo de artigo acadêmico ou algo parecido. Não se preocupem, não o encherei com referências ou nomes bonitos — talvez um ou outro, para dar um up no texto. Em fato, redijo aqui esse pensamento motivado por nada mais nada menos que por pura stream of consciousness minha, e também lembrando de discussões sobre cinema com amigos.
Deixando claro que isso não é uma regra, estou expondo um pensamento com intuito de discutir e, assim, gerar troca de experiências e aprendizados; falar besteira é normal, e provavelmente o farei durante essas X quantidades de palavras que irei digitar por aqui. Então, vamos ser tranquilos e debater com educação, ok? Concordar é ótimo, mas discordar promove trocas etc. Vamos para o que de fato interessa.
Quando falamos de clássicos cinematográficos, sempre aparecem nomes conhecidos como: “2001: Uma Odisseia no Espaço”, “Cidadão Kane”, “Pulp Fiction”, “O Poderoso Chefão” e por aí vai, dos mais antigos até os mais contemporâneos. E não só filmes, mas também seus diretores, as mentes por trás das obras: Kubrick, Tarantino, Spielberg, Hitchcock, Scorsese e tantos outros. Tendo consciência de que essas figuras se destacam, algo eles fizeram para serem tão reconhecidos, fazendo sua arte brilhar dentre tantas e pensar além de seu tempo. Quando o assunto “clássicos” surge, eles marcaram e definiram aspectos para os seus gêneros e para o cinema como um todo, é inegável.
Mas sempre que se trata do cinema autoral (sim, eu prefiro esse termo, de longe) surge a aura maldita do termo “Cinema de arte”. Essa “taxonomia” é carregada e extremamente pedante, além de que, trata-se de uma segregação que não faz o menor sentido, tanto na prática, como conceitualmente falando. Em toda ocasião, quando o termo surgia, eu sentia uma cerca enorme ser criada, eu mesmo já falava disso quando queria me referir uma obra mais cult, e antes de mencionar, sempre deixava claro meu desprezo por essa taxação.
“Arte sf 1. Capacidade de expressar uma ideia, empregando algum material que possa ser trabalhado — a arte de um pintor. 2. Prática de atividade que depende da inteligência e da habilidade — a arte de um médico/a arte de um pedreiro.”
Geraldo Mattos — Dicionário JÚNIOR da língua portuguesa.
Vamos por conceito: Não sei vocês, mas o Dicionário Júnior já me deixou bem claro que qualquer coisa que você empregar um valor artístico, dentro dos conceitos que aquela obra em específico abrange, será arte. Claro que ela, por si só, é extremamente subjetiva, do modo de criação até o de apreciação, mas existem moldes de avaliação, como, já cito, o do cinema, que observa fotografia, roteiro, atuação, direção etc. Esses são os aspectos técnicos que compõem qualquer obra cinematográfica. Assim como a música, que tem que ter melodia, ritmo, voz (ou não, no caso das instrumentais). Descartando qualquer valor de qualidade, de bom ou ruim, se um produto segue as “normas” do seu segmento artístico específico, ELE É ARTE.
“O conceito de cinema de arte é um tanto vago, tanto quanto a sua história. É, todavia, do conhecimento geral que o termo se refere a obras apreciadas pelo seu valor artístico e não como passatempo lucrativo, a filmes que sobrevivem à avassaladora maré das produções de Hollywood, ao “mainstream”, ao cinema industrial cujo objetivo é o lucro. É, na sua essência, um cinema que se preocupa com a condição humana e a aborda numa perspectiva ética, que não é descartável da estética, tanto em criações de baixo orçamento (low budget films) ou de nenhum orçamento (no budget film) como em projetos de elevado custo de produção.”
Fonte: Wikipédia
Há quem ache que justificar algo dizendo que é a “Proposta” possa soar preguiçoso ou algo semelhante. Concordo, mas há casos e casos. Ressaltando o conceito que atribuem ao termo “Cinema de Arte”, podemos perceber que, com apenas uma pesquisa rápida, reitera-se o fator “segregação”. O cinema dito “lucrativo” e de “passatempo”, os famosos blockbusters, não se limita a só isso. Não irei longe para citar um exemplo que de cara quebra todo esse paradigma insolente.
Dirigido por Ryan Coogler, em 2018 chegou aos cinemas o maravilhoso e importantíssimo “Pantera Negra”. Se você possui alguma rede social, deve ter visto centenas de publicações ao redor do mundo com a comoção do filme e pela representatividade que este carrega consigo. Lembrando: Um filme blockbuster. Mas destaco aqui o valor deste filme — que dizem não ser arte… Faça-me o favor! -quando li uma notícia que circulou em vários veículos, de um garoto de 15 anos que resolveu voltar a estudar por conta de ter assistido e se inspirado no protagonista T’Challa. É um caso lindo, e deixo aqui um link para saber mais.
O valor que isso tem é inestimável. O efeito que a obra causou na vida dessa pessoa já vale mais que os orçamentos exacerbados de filmes que “não são arte”. E ressalto, de novo, um “blockbuster”. Ano passado, tivemos “Mulher Maravilha”, dirigida por Patty Jenkins, outro grande marco no cinema que “não é de arte”, por sua representatividade feminina e por seu simbolismo.
Eu disse que não iria mais longe, mas tenho de ir. O que seriam dos conceitos de amizade que reverberam na memória de muitos se não fossem as aventuras dos anos 80? A escola Spielberg de produção, de garotos e garotas numa aventura contra o mal e descobrindo que a união faz a força e que a segregação só enfraquece. Filmes de apenas “entretenimento barato”. Entretenimento barato existe? Claro que sim, é óbvio. Abra qualquer filme do Adam Sandler. E até o Adam Sandler consegue arrancar uma mensagem bastante interessante, “Click” está aí para provar isso.
O recente programa (2016), feito pela TV Quase e exibido no canal do Omelete, “Choque de Cultura”, ganhou um público gigante de fãs e não-fãs de cinema. São motoristas de transporte alternativo, que se juntam em um estúdio e discutem obras cinematográficas, desde a mais cult até a mais “não cinema de arte”. Os personagens, Rogerinho do Ingá, Renan, Maurílio e Julinho, tratam das obras diante das perspectivas de suas vidas e de quem eles são. Logicamente, algumas posições tendem aos exageros, mas isso ocorre para efeito cômico, que é o viés principal do programa.
Entretanto, dentro do tema que abordo aqui, “Choque de Cultura” é uma metalinguagem disso tudo, pois são pessoas que não são cults, mas que assistem a filmes assim, e os tratam, na hora de avaliar, da mesma maneira dos que “não são arte”. E eles são motoristas de van, cinéfilos, consegue entender? Não conseguimos imaginar um motorista de van que seja cinéfilo, mas quem disse que não pode existir? E só pelo fato de já estar assistindo a filmes e discutindo sobre eles, já é maravilhoso.
Todo filme é arte. Bom ou ruim. É arte. Entender isso é fundamental. Gosta de filmes? É cinéfilo? Tenho certeza que, mesmo que não o seja, já deve ter visto algum filme que deixou alguma mensagem marcada (e uma que seja positiva). Nenhuma delas, estou certo disso, era sobre separar.
Não é só um termo para definir filmes com assinatura própria, se for por isso, existem nomes melhores para tal, como, por exemplo: “Filme com diretor de assinatura”. Olhe aí, que beleza de nome. Não segrega, não é nocivo, mas agrega. É essa mensagem que a arte e o cinema espalham em muitas de suas obras: União. Da comédia romântica mais boba até uma Magnum opus de Scorsese. Em suma, sempre é algo voltado para o ser humano; alguns, em níveis mais aprofundados; outros, melhores discutidos, alguns, nem tanto, mas a intenção é a mesma. Cinema é Cinema. Cinema é arte.